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Não há vaga para troglodita digital

Por Hamilton Werneck
15/04/19 - 09:41

A humanidade tem comportamentos a favor e contra novidades. Há períodos de avanços e estagnações. Momentos de crise ativam o espírito criativo e as necessidades impulsionam as inovações. Elementos de freio podem ser ativados por vários motivos, inclusive de crença religiosa. A França, por exemplo, não aceitava importar e plantar as batatas que chamamos de inglesas, através da Alemanha, porque o país professava a fé Luterana e os franceses eram católicos. Talvez imaginassem que a fé pudesse ser transportada num sufflé de batatas. Somente o recrudescimento da fome, na França, conseguiu fazer com que o rei da época importasse as batatas. Passando das batatas aos livros há algo semelhante. As bibliotecas não sobrevivem às guerras. Galeano nos conta que Júlio César, guerreando contra o irmão de Cleópatra, no Egito, acabou por incendiar a biblioteca de Alexandria com seus milhares de rolos de papiro. Bush, presidente americano, ao invadir o Iraque, queimou a biblioteca de Bagdá. A única biblioteca que se salvou foi a do grão-vizir da Pérsia, Abdul Kassem Ismael. Ele levava seus livros em viagens, transportados por camelos. Esta biblioteca ambulante foi salva.

Hoje a nuvem é nosso esconderijo. Tudo é armazenado por lá. Ninguém sabe onde está, mas está na nuvem. Só os trogloditas digitais não acreditam e salvam seus escritos. Nada está a salvo dentro de um computador com os esquadrões de hackers espalhados por todo o ciberespaço.

Este mundo novo requer atualização contínua, iniciando-se nas residências, nas escolas e desembocando no decorrer da vida e nas empresas.

Nossas bibliotecas são virtuais, saímos de casa e as levamos nos computadores, estes camelos modernos e mais práticos que aqueles do vizir da Pérsia.

O que me preocupa e constrange é ouvir num diálogo a defesa da tecnologia de um mimeógrafo a álcool, como alguma coisa intimamente ligada à vida profissional. Ouvi isto em pleno século XXI. É verdade que usei este processo de cópia, já como professor universitário, na década de 70. Doei esta ferramenta a uma escola, convivi com a copiadora gestetner, com o estêncil eletrônico e migrei para os computadores. Um diretor doou-me uma máquina de escrever elétrica. Na verdade, usei-a por um ano. O computador tomou seu lugar.

Acostumei-me desde cedo a lidar com mudanças. Aprendi o alfabeto Morse aos nove anos porque meu pai julgava que poderia ser contratado aos dezoito pela estrada de ferro. Aos dezoito os telégrafos foram recolhidos e implantados os telefones. A primeira profissão para a qual me preparei, acabou.

Talvez por esta experiência, não me preocupo com as mudanças, tenho certeza de uma rápida adaptação. Assim, das fitas VHS migrei para os DVDs e, agora, estou no Youtube. O fax já foi embora e a copiadora de DVD está sem serviço. Aprendi, desaprendi, reaprendi e se não tivesse algumas atitudes drásticas de desobediência, certamente seria um troglodita digital.


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