'Ainda Estou Aqui': ator de Cabo Frio vive agente militar em filme de Walter Salles
Ovacionado em Cannes e premiado em Veneza, longa recebeu indicações no Globo de Ouro e Critics Choice Awards
Um ator de Cabo Frio, na Região dos Lagos do Rio, ajudou a contar no cinema um caso marcante da ditadura militar no Brasil: o desaparecimento do ex-deputado e engenheiro Rubens Paiva, em janeiro de 1971, durante uma das fases mais cruéis do regime.
Em "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles, Daniel Ericsson interpreta um militar envolvido na prisão de Eunice e Eliana Paiva no Destacamento de Operações e Informações (DOI), órgão de repressão do Exército.
O filme narra não só o desaparecimento do engenheiro, mas também a luta da família Paiva por respostas sobre o paradeiro de Rubens, que teve a morte reconhecida pelo Estado apenas em 1996, após Fernando Henrique Cardoso sancionar a Lei dos Desaparecidos.
Em entrevista ao Portal Multiplix, Daniel ressalta a dedicação absoluta de todos os envolvidos durante o processo de gravação:
Uma vontade grandiosa de dar voz a tantos que foram calados através de uma história real, que por acaso foi a da família Paiva.
O ator enfatiza a dedicação absoluta de todos os envolvidos durante a produção do longa | Fotos: Arquivo pessoal/Daniel Ericsson
Desde a estreia em 7 de novembro de 2024, o longa já levou mais de 2 milhões de espectadores para as salas de cinema e mobiliza discussões sobre os desaparecidos políticos da ditadura.
Ter esse filme no currículo é uma honra pra minha carreira. Poder participar de uma obra que tem reconciliado o Brasil numa só torcida é muito comovente para um artista. É bonito saber que as salas de cinema estão cheias e que o filme nos representa gloriosamente mundo afora
, conta o ator.
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, ressaltou a repercussão social do filme durante sessão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na última terça-feira, 10.
Na oportunidade, foi determinado que as certidões de óbito das pessoas mortas e desaparecidas durante a repressão política registrem: "morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964".
Para Daniel, toda a movimentação em torno da obra comprova que:
(...) nossa sociedade brasileira é ainda um povo amoroso que quer estar unido e sem medo de olhar suas feridas. Espero que o filme seja uma locomotiva que traga muita gente a consumir regularmente os filmes e as séries nacionais.
Impulsionado pelo sucesso de "Ainda Estou Aqui", o ator, que também é professor de teatro, afirma que a procura por cursos, workshops e oficinas aumentou após o lançamento do longa.
As aulas de teatro, TV e cinema são oferecidas em Cabo Frio, Teresópolis, Búzios, Araruama e Rio das Ostras. Segundo Daniel, a previsão é de expansão para outras cidades:
Estamos tentando acolher a crescente demanda de capacitação na área em nossa região. Como nosso curso dá direito ao registro profissional, temos recebido muita manifestação de interesse e estamos expandindo.
As aulas de teatro, TV e cinema são oferecidas em Cabo Frio, Teresópolis, Búzios, Araruama e Rio das Ostras | Foto: Arquivo pessoal/Daniel Ericsson
Para se inscrever, os interessados podem entrar em contato pela rede social do curso ou pelo telefone (22) 99904-9817.
Atualmente, Daniel trabalha no espetáculo solo "O sonho de um homem ridículo", adaptação livre da obra de Dostoiévski.
O espetáculo tem estreia prevista para 2025 e circulará pela região dos Lagos, Serrana e capital do Rio de Janeiro.
Oscar à vista
Nesta segunda-feira, 9, "Ainda Estou Aqui" alcançou uma importante conquista: recebeu duas indicações ao Golden Globe Awards 2025 nas categorias Melhor Atriz e Melhor Filme em Língua Estrangeira.
Com isso, Fernanda Torres, que estrela a obra no papel de Eunice Paiva, repete o feito da mãe, Fernanda Montenegro, indicada à mesma categoria há 25 anos pelo filme "Central do Brasil", também dirigido por Walter Salles.
Mãe e filha são as únicas atrizes na história a representarem o Brasil na categoria de Melhor Atriz.
Nas redes sociais, as Fernandas comemoraram esse momento:
Fernanda Torres tem um trabalho extraordinário, tem que ser reconhecido. Fico muito comovida pela indicação da minha filha ao Globo de Ouro
, ressaltou Montenegro no Instagram.
Uma loucura, uma loucura. Beijo, inacreditável. E Walter, 25 anos depois dele com a minha mãe, realmente… A vida presta!
, celebrou Torres, em vídeo.
Dias depois, na quinta-feira, 12, a produção foi indicada ao Critics Choice Awards na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.
A campanha coloca a atriz na rota do Oscar 2025 e fortalece a possibilidade de ser indicada a Melhor Atriz.
O Brasil foi representado nessa categoria em 1999 por Fernanda Montenegro, com a aclamada atuação em "Central do Brasil". O prêmio, no entanto, ficou para Gwyneth Paltrow, por "Shakespeare Apaixonado".
Para Fernanda Torres, a consagração não está na estatueta, mas na recepção do público:
O Oscar não é a fronteira final. O grande prêmio de um filme é fazer o filme. E quando ele chega nas pessoas, no mundo, aí é inacreditável
, declarou a atriz em entrevista à Vogue.
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