Clínica Santa Lúcia passa a ser administrada definitivamente pela Prefeitura de Nova Friburgo

A Prefeitura de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, assumiu nesta segunda-feira, 4, o controle administrativo da Clínica de Repouso Psiquiátrico Santa Lúcia. Essa é a última etapa da intervenção na unidade, iniciada em abril do ano passado, já que agora a antiga administração foi afastada definitivamente.

Um interventor e uma comissão, nomeados pela prefeitura, vão gerir a unidade psiquiátrica pelo prazo de 180 dias. Esse período pode ser ampliado por mais seis meses, ou até que a desinstitucionalização dos pacientes seja concluída.

Nas redes sociais, a prefeitura informou que essa medida visa garantir os cuidados mentais de forma adequada e humanizada, ao mesmo tempo em que promove a integração dos pacientes na sociedade, de forma segura.

A clínica já chegou a ter mais de 160 internados, mas muitos já receberam alta desde que o contrato do município com a clínica foi suspenso, em abril do ano passado. Atualmente, são 110 pacientes, segundo o Executivo municipal.

A Clínica Santa Lúcia funcionava como instituição privada há 56 anos | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

O projeto da prefeitura prevê que os internos que não tiverem condição de voltar para as famílias, deverão ser encaminhados para residências terapêuticas, que ainda estão em fase de implantação.

A intervenção da clínica foi uma recomendação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). O órgão alega que os internos sofriam violações dos direitos humanos, e que a política de saúde mental da Santa Lúcia estava defasada em relação à legislação atual.

Protesto e despedida

No dia 1º de abril, alguns familiares de internos ou pessoas que buscam internar algum parente na clínica fizeram um protesto pacífico na entrada da prefeitura.

O ato pediu que o Executivo municipal reconsiderasse a decisão que promoveu a intervenção na clínica. Algumas pessoas pediram a saída do prefeito Johnny Maycon (Republicanos).

A manifestação contou com a presença de parlamentares da oposição ao atual governo, incluindo o presidente da Comissão de Saúde da Câmara, o vereador Repórter Maicon Queiroz (PSC).

Ainda na semana passada, o ex-diretor da clínica, Dermeval Barbosa Moreira, divulgou uma carta aberta à sociedade em que se despede do trabalho à frente da Santa Lúcia.

Por telefone, Dermeval disse ao Portal Multiplix que acredita que o hospital psiquiátrico ainda vai ser necessário diante da dificuldade de muitas famílias para receber alguns dos internos de volta em casa.

Por outro lado, o ex-diretor disse que acataria as determinações da prefeitura e que a única preocupação nesse momento era com as famílias. Segundo Dermeval, muitas pessoas estão preocupadas com o futuro dos pacientes.

“Foram 20 anos desde que fizeram a lei (que prevê a desinstitucionalização) e agora não tem mais como voltar atrás. Decreto é decreto. Eu acho que não é o que a gente desejaria, mas é o menos ruim”, afirmou.

O imóvel da clínica pertence a Dermeval e mais oito sócios. Com a intervenção administrativa, eles passam a receber um aluguel pelo uso do espaço.

“Fico um pouco ansioso pelas famílias, pois são pessoas que nós adquirimos um amor muito grande nesse tempo todo”, conclui.

Em março, a secretária de Saúde, Nicole Cipriano, disse ao Portal Multiplix que o processo de desinstitucionalização será longo, mas que ninguém vai ficar desamparado. Contudo, a chefe da pasta não deu um prazo para a abertura da primeira residência terapêutica do município.

"A gente está criando um novo modelo de assistência, que é a desinstitucionalização. E hoje, enquanto secretária e à frente dessa administração, eu posso garantir que estamos muito mais preparados do que logo no início, pois era um processo que gerou muita inquietação, medo e insatisfação da nossa população. E a gente conseguiu que agora seja feito de forma mais moderada, e com maior segurança para aqueles que estão lá e para as famílias", disse Nicole à reportagem.

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