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Com cigarros eletrônicos, novos grupos são afetados pelo tabagismo; saiba como tratar a doença

Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito na atenção primária; veja postos de atendimento em Nova Friburgo

Por Eliandra Bussinger
25/11/24 - 14:57
Com cigarros eletrônicos, novos grupos são afetados pelo tabagismo; saiba como tratar a doença Popularização dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) tem facilitado a iniciação ao tabagismo, segundo especialista do Inca | Foto: Reprodução/Banco de Imagem

O controle do tabagismo no Brasil enfrenta uma batalha constante e ganha um capítulo mais desafiador com a popularização dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF) – também conhecidos como cigarros eletrônicos, vape e pod.

Apesar da proibição da comercialização, importação e propaganda desses produtos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, a epidemiologista Neilane Bertoni, do Instituto Nacional de Câncer (Inca), explica que a chegada dos DEF ao país tem facilitado a iniciação ao tabagismo.

Com isso, grupos que antes estariam menos propensos a utilizar cigarros convencionais, como mulheres e pessoas com maior escolaridade, estão aderindo ao uso dos eletrônicos.

A pesquisadora aponta que os jovens também são "atingidos pela epidemia do tabagismo" e são os principais alvos da indústria do tabaco, que "tenta disseminar os DEF através de 'apelos' como os diversos sabores, formatos e tecnologias dos dispositivos":

A prevalência da doença e do consumo do cigarro convencional vem apresentando uma queda expressiva nas últimas décadas (...) Então, a indústria do tabaco, que quer lucrar, tenta repor o seu público de dependentes de nicotina.

Neilane explica que o Brasil é o segundo país no mundo a implementar integralmente todas as medidas propostas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para o controle da doença. No entanto, o tabagismo ainda é um problema que exige atenção:

Temos dados que 12% de todas as mortes que ocorrem no país são atribuíveis ao tabagismo. Isso corresponde a 477 mortes por dia no país por causa do tabagismo. O Brasil gasta R$153,5 bilhões com despesas médicas, cuidados informais e perda de produtividade atribuíveis à doença.

O coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), dr. Paulo Corrêa, ressalta que a normalização do consumo de cigarros convencionais e eletrônicos é uma estratégia antiga da indústria:

As formas de recrutamento de jovens são bastante antigas, é a mesma coisa que Hollywood fez: apresentar como uma coisa charmosa e elegante. A indústria de cigarros tradicionais e eletrônicos é a mesma. O que tem de novidade é o uso de influencers, dizendo que os produtos são da moda e tecnológicos.

De acordo com especialista, os DEF têm mais de 2.000 substâncias, muitas delas de natureza desconhecidaDe acordo com especialista, os DEF têm mais de 2.000 substâncias, muitas delas de natureza desconhecida | Foto: Reprodução/Joédson Alves (Agência Brasil)

A propaganda pode ser semelhante, mas o produto é diferente e possui ainda mais elementos nocivos à saúde, como explica o especialista:

Os DEF têm mais de 2.000 substâncias, muitas delas de natureza desconhecida (...) O que sabemos que tem lá são cancerígenos como formaldeído e benzeno, metais pesados que tem uma série de problemas para a saúde.

Sobre os riscos específicos desses produtos, o coordenador destaca que os cigarros eletrônicos causam os mesmos danos cardiovasculares e neurovasculares que os convencionais. Contudo, com os metais pesados, trazem novos perigos:

O níquel é um cancerígeno dos seios paranasais e do pulmão; já o alumínio está relacionado ao transtorno de déficit de atenção, dificuldades escolares e desenvolvimento de Alzheimer.

O pneumologista também menciona doenças agudas, como a pneumonia eosinofílica e a Evali (sigla em inglês para uma lesão pulmonar grave associada ao uso de cigarros eletrônicos):

É uma doença super grave. (...) Leva a pessoa para a terapia intensiva e, muitas vezes, deixa sequelas para o resto da vida.

Impacto na saúde pediátrica

Para as crianças e adolescentes, o dr. João Paulo Becker Lotufo, representante da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) para assuntos sobre álcool, tabaco e drogas, explica que o "o risco de vício é muito maior":

Qualquer droga iniciada antes da formação do cérebro, aos 21 anos, pode haver uma dependência maior. Como o cigarro eletrônico tem mais nicotina que o tradicional, o risco de intoxicação nicotínica na faixa pediátrica é mais grave. Estamos criando um exército de dependentes de nicotina.

Com a dependência ocorrendo cedo, o especialista aponta que os problemas respiratórios também serão precoces.

As essências presentes no cigarro eletrônico também podem causar uma pneumonia lipoídica que é catastrófica. O pulmão se desenvolve até os 14 anos. Se o jovem começa fumar antes disso, as lesões serão irreversíveis e isso é problemático. Nem todo mundo tem lesão, nem todo mundo morre de câncer com cigarro tradicional, mas o risco de ter uma doença desse tipo com consequências graves é muito alta.

Tratamento

Em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, a Secretaria Municipal de Saúde mantém o Programa de Controle ao Tabagismo Tragar Saúde.

O tratamento no SUS – oferecido em 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade – inclui avaliação clínica, acolhimento individual ou em grupo, e, se necessário, terapia medicamentosa junto com a abordagem intensiva, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do tabagismo.

A Secretaria de Saúde explica que, após avaliação da equipe multidisciplinar, é analisada a necessidade de medicamentos como adesivos e gomas de mascar de nicotina, além do cloridrato de bupropiona.

O suporte ao paciente também abrange sessões periódicas de Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), principalmente para menores de idade que procuram o tratamento.

Segundo a prefeitura, a abordagem tem como objetivo "fazer o paciente entender por que fuma, como isso afeta a saúde e como vencer os obstáculos para parar".

Na cidade, o programa realizou 153 atendimentos, entre janeiro e agosto de 2024. De acordo com o governo municipal, o foco é "intensificar a divulgação para aumentar o número de usuários em tratamento":

Muitas pessoas ainda não têm ciência que o tratamento é realizado gratuitamente pelo SUS. Vale ressaltar que, em 2022 e 2023, houve o desabastecimento de insumos fornecidos pelo estado, o que reduziu significativamente a procura por tratamento.

Para se inscrever, basta comparecer à unidade de saúde de referência e entrar na lista de espera. Clique aqui e confira os postos de atendimento disponíveis em Friburgo.

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