Ministério da Saúde aponta crescimento no número de casos de HIV entre jovens e idosos no Brasil
Taxas de detecção de Aids, estágio avançado do HIV, também cresce entre jovens de 25 a 29 anos
Mesmo com os avanços no combate ao HIV e à Aids no Brasil, a infecção ainda é uma questão de saúde pública que merece atenção. É o que aponta o último Boletim Epidemiológico de HIV e Aids, do Ministério da Saúde.
De acordo com o documento – que analisa os casos de infecção pelo HIV no Brasil, notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), de 2007 até junho de 2023 – 23,4% dos registros são de jovens entre 15 e 24 anos.
Outro dado que chama a atenção no estudo é que, desde 2017, as pessoas entre 25 a 29 anos vêm apresentando as maiores taxas de detecção de Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), o estágio mais avançado de danos ao sistema imunológico provocado pelo HIV.
Em 2022, esta faixa etária atingiu o patamar de 54,4 casos a cada 100 mil habitantes.
A infectologista Tânia Vergara, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) explica que esse quadro ocorre quando o HIV, vírus que ataca os linfócitos de defesa, não é tratado. Com isso, "aumentam as possibilidades da pessoa desenvolver doenças que normalmente não teria se ela tivesse uma boa defesa imunológica”.
Viver com HIV não é mesma coisa que ter Aids, que é a manifestação clínica da doença provocada pelo vírus. Mas todos que têm Aids, vivem com o HIV
, afirma a especialista.
Além dos jovens, outro grupo que registrou aumento no número de casos de HIV foi o de pessoas com 50 anos ou mais. O percentual de casos entre mulheres dessa idade passou de 11,4%, em 2012, para 20,3% em 2022, enquanto entre os homens o índice passou de 8,7%, para 11,4%, no mesmo período.
Com base na pesquisa, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) alerta também que a faixa etária a partir de 60 anos, entre 2011 e 2021, foi "a única na qual ocorreu um aumento percentual de falecimentos por conta do HIV ao longo destes dez anos".
A entidade aponta que o número de idosos que testaram positivo para o HIV quadruplicou nesse período.
O que está por trás destes números
Para Tânia Vergara, o aumento de casos nessas faixas etárias ocorre por diferentes motivos.
Ela explica que, com os avanços científicos no diagnóstico e tratamento do HIV e da Aids, os jovens hoje em dia não associam a doença a algo grave.
Antes a Aids tinha um aspecto feio, não tinha tratamento e afastava as pessoas (...) Hoje, de uma forma impressionante, temos recebido cada vez mais jovens com diagnóstico tardio
, ressalta.
A especialista enfatiza ainda que:
O jovem tem aquela percepção que nada acontecerá com ele, já o idoso não tem a percepção de risco. O idoso considera o HIV uma doença da juventude e os médicos também têm essa distorção, e não pedem exames para eles e perdem um momento precioso de identificar a infecção e começar o tratamento quando ainda não há sintomas.
Nesse sentido, o geriatra e presidente da SBGG, Marco Túlio Cintra, reforça que os médicos geralmente pensam em doenças como o câncer, por exemplo, e quando decidem pedir um exame de HIV, já perderam muito tempo.
Existe um preconceito dos profissionais de saúde em relação aos idosos, como se essa população não fosse mais ativa sexualmente. Se a pessoa teve relações sexuais ao longo da vida e ela tiver com boa saúde, continuará tendo vida sexual quando for idoso (...) Então, tem de ser orientada em todos os sentidos, que mesmo sem o risco de engravidar, por exemplo, é preciso usar o preservativo
, explica o especialista.
Para o médico, também é necessário mudar a forma como as campanhas de conscientização são conduzidas.
Na visão do especialista, o foco deveria ser o comportamento de risco, e não o grupo. Marco destaca ainda o papel da testagem, já que o diagnóstico precoce corta a transmissão e favorece o tratamento antes do aparecimento dos sintomas.
Também favorece a comunidade, porque você está diagnosticando uma pessoa assintomática e cortando a transmissão. Uma pessoa com carga viral detectada para de transmitir sexualmente o vírus HIV e outras infecções
, afirma o geriatra.
A desinformação sobre as formas de prevenir a infecção também é apontada pelos especialistas como uma das razões para o aumento no número de casos.
Atualmente, existem: a camisinha, que previne não só o HIV, mas também outras infecções sexualmente transmissíveis (IST); a profilaxia pré-exposição (PrEP); e a profilaxia pós-exposição (PEP).
Todas elas são disponibilizadas gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS).
Diagnóstico e tratamento precoce do HIV em Nova Friburgo
De acordo com dados divulgados pela Prefeitura de Nova Friburgo, de janeiro a outubro de 2024, foram realizados 4.617 testes rápidos de HIV na cidade. Destes, 0,9% resultaram reagentes.
O município possui 1.103 pacientes cadastrados que vivem com o vírus e estão em acompanhamento pela equipe de saúde.
Para conscientizar a população sobre a infecção pelo HIV e a Aids, a prefeitura promove, durante o mês de dezembro, uma série de atividades educativas em diferentes unidades de Estratégia Saúde da Família (ESF) da cidade.
De acordo com o cronograma divulgado pelo governo municipal, além da distribuição de preservativos masculinos em todas as unidades de saúde, também será oferecida a testagem rápida de HIV.
Clique aqui e confira os locais que oferecerão os serviços.
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