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Cabreiro

⁣⁣⁢

Por George dos Santos Pacheco
07/07/21 - 14:42

Meu avô não acreditava que o homem foi à Lua. Vá lá, tem um monte de gente que não acredita nisso mesmo. Há, inclusive, uns documentários de TV bem bacanas que questionam o fato heroico, munidos de argumentos plausíveis, convincentes e altamente persuasivos. Imaginem, meu avô poderia estar certo! Como é que pode o homem ter ido à Lua, voltar com umas pedrinhas vulgares e nenhuma notícia de São Jorge? Se tivessem ido lá mesmo, teriam dado de cara com o santo, montado em seu cavalo branco, lança em punho – acho até que tomariam um pescoção pelo atrevimento. Os americanos na Lua? Conversa fiada.

Talvez o velho também não acreditasse na gravidade do tal “resfriado”, se ainda estivesse pisando nesta terra, igualzinho a muitos por aí, gente jovem e esclarecida, há que se ressaltar. Vovô era do tipo “cabreiro", desconfiado que só. Diria que estava tendo um “andaço" de gripe por aí, com os lábios franzidos num muxoxo, reclamaria que estamos feito passarinho na muda, recolhidos dentro de casa. Juntar-se-ia ao coro que defende o uso de suco de limão pra prevenir, àqueles que praguejam contra um temível e irresponsável “ataque biológico” chinês, e aos que fazem pirraça e bordejam por aí assim mesmo.

A sensação, apesar de toda essa boataria, sensacionalismo e ceticismo virulento, é de estar vivendo dentro de um filme. No princípio, as cidades ficaram desertas, com uma unidade ou outra de humano caminhando incauto por aí. Todos se preocupando em limpar tudo o que viesse de fora, se preocupando com a própria saúde, com a dos velhinhos, com a das crianças. A economia mundial, nacional, até a do arraial, foram para a Lua. O comércio precisou se reinventar, as relações humanas precisaram se reinventar – e já estão se reinventando. É verdade, deu no rádio e na TV...

E daí? Daí que o pessoal começou a rezingar, é claro – reclamar é nossa natureza. A quarentena é ruim? É uma maçada! Só o fato de estarmos distantes de nossos familiares dispensa explicações. Mas e o desemprego, a falta de renda, e tudo o mais que vem a galope junto com a política de distanciamento social? Não é mole não, cara pálida. O vírus é muito mais danoso se considerarmos o aspecto social e econômico, além da saúde, evidentemente – a engrenagem precisa girar. Comércio e serviços parados, dinheiro sem circular. Dinheiro sem circular, economia estagnada. Economia estagnada, Governo em crise. Mas é claro, há uma insólita parcela da população que torce para o barco afundar, mesmo estando dentro dele. E esperar que o Brasil continue avante – como o país ufanista dos anos 80 – em tempos de quarentena, é o mesmo que desejar que o carro ande com o motor parado (e ninguém quer descer pra empurrar, sejamos francos).

Cabreiro, eu? Quiçá. Entre tantos serás e talvezes vou caminhando e cantando e seguindo a canção, porque, por mais que tudo isso que estamos vivendo seja na mente mais mirabolante de todas, uma grande falácia, guerra econômica, biológica ou qualquer outro absurdo que algum terráqueo possa imaginar, desta vez, é o nosso forévis que está na reta, não é mesmo?

Quer saber do que mais? Acho que meu avô estava certo em duvidar. O homem não deve ter ido à Lua coisa nenhuma mesmo. Elvis não morreu. Paul McCartney sim (foi substituído por um sósia, não sabiam?). As pirâmides do Egito foram construídas com tecnologia alienígena. O Titanic afundou por causa de um iceberg? Ah, fala sério. Isso sem contar as maracutaias políticas tupiniquins desde que o Brasil estava nos cueiros.

A gente é manipulado o tempo todo mesmo – e inocentes somos em não perceber. Mas não serei eu a testar o sistema, eu é que não vou bancar o herói, porque não tenho peito de aço. Vou ficar quietinho dentro de casa, desconfiado e cabreiro, vendo pela janela as bolas de feno rolarem pela rua – como naqueles filmes antigos de bangue-bangue. Aproveito e rezo pra São Jorge, a velar por nós até esse andaço passar. Porque não há forma mais eficaz que o isolamento, em nosso contexto pindorâmico, de controlar a propagação do vírus, inimigo invisível que molesta nossas frágeis e esquálidas emoções. Opa, peraí. Será que não?


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