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Confusão ortográfica

Por George dos Santos Pacheco
23/10/24 - 08:20

"Eventualmente, todas as coisas se encaixam. Até então, ri da confusão, vive os momentos, e percebe que tudo acontece por uma razão." (Albert Schweitzer)

Confesso que estou ficando ligeiramente preocupado com o caso. Não é de hoje que acontece, mas vá lá, tem ocorrido com uma frequência assustadora. Será uma espécie de síndrome, um distúrbio cognitivo ou neurológico? Deus me livre e guarde. Deve haver uma boa explicação para isso, afinal, tudo tem um porquê.

Hum-hum. Esses dias fui salvar uma versão atualizada de um arquivo no computador e a máquina perguntou "Substituir o arquivo nordestino?" Ô, cacetas. Olhei com mais atenção… era "Substituir o arquivo no destino?", claro e evidente. Noutra ocasião, era a divulgação de um evento no Dia das Crianças, mencionando "guloseimas, animação e brinquedos infalíveis". Como é que é, ô, rapá? Era infláveis, sem dúvida. E teve também o "camarão" sem glúten, a "cabeça" mineira artesanal, e a placa da "insistência" técnica, que dispensam maiores explicações.

Diga para o colunista, estupefato leitor, que também acontece contigo, pois não consigo suportar a ideia de que tal desarranjo mental aconteça apenas comigo. Faça este obséquio, cara pálida.

Pois é. De tanto acontecer, passei a me perguntar: do que se trata, meu Deus? Será que o uso excessivo das ferramentas de autocorreção (que não corrigem absolutamente nada) em smartphones e aplicativos de mensagens está afetando nossa capacidade cognitiva? Será uma sequela do coronavírus? Uma falha na matrix? Um plano maligno de dominação global orquestrado por alguma sociedade secreta antiga? Não sei, não sei.

De fato, os passos necessários para a produção de palavras incluem várias etapas de processamento, como: identificar o significado desejado, selecionar a palavra correta do nosso "vocabulário mental", resgatar o padrão sonoro e executar os movimentos da fala para articulá-lo. Mas e quando o processo é a decodificação de uma palavra escrita e a formação de seu significado na mente? E quando, neste processo, a mente deturpa a palavra, acrescentado letras que não existem, criando uma homografia inexistente além de um significado absurdo em relação contexto? Na linguagem da molecada de hoje em dia, o cérebro "bugou".

Minha questão, veja bem, já não é mais o fato de a confusão ortográfica ocorrer, isso é perfeitamente superável, o menor dos nossos problemas. O que realmente perturba o cronista é a razão por trás disso. Afinal, tudo tem um porquê. O horário de verão tem um porquê, a tolerância com as empresas de apostas esportivas, idem. O excesso de programas de auditório, reality shows, campeonatos de futebol; a paulatina destruição dos valores morais e éticos; o estímulo sutil à desagregação da sociedade; a escalada do preço dos alimentos; a eleição recorde de um prefeito; o trânsito caótico; a degradação da educação e saúde públicas; o fim de semana chuvoso no limiar da primavera; o surto de sinusite (tudo é sinusite agora)… ora, todas essas coisas têm um porquê. Confusão ortográfica? Não, meu senhor, não se trata disso. Trata-se tão somente do porquê.


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