Conhecem o Peter?
Conhecem o Peter? Gente boa. Desde moleque gostava de pular. Pulava o muro da escola, o muro do vizinho pra catar goiaba, pulava amarelinha, pulava carniça, pulava corda... Tudo que se podia pular, ele pulava. De tanto pular, tornou-se uma sumidade no assunto. Francamente, o Peter é um pé no saco. Se ele não tivesse pulado as tais doze mil vezes e batido o recorde mundial, o serviço de streaming de música não ficava usando-o toda hora para forçar a gente a adquirir o serviço premium.
Vá lá, o problema não é o Peter ficar aporrinhando no meio da minha playlist das galáxias. O cerne da questão é que, aparentemente, o serviço gratuito é prestado à moda “meia-boca", justamente pra conduzir o usuário para o “melhorado". Cobrar pelo serviço não está errado, errado está em prestá-lo de qualquer maneira com uma segunda intenção.
O pior é que já faz tempo que essa estratégia de marketing vem sendo usada. O pãozinho, a gasolina, e até o carvão do churrasco não são mais os mesmos. Tem manteiga premium, cerveja premium, shampoo premium, milho de pipoca premium, o escambau premium. Se não for premium, é gourmet. O que essas empresas estão fazendo, na verdade, é usar displicentemente esses termos como um meio de fazer o consumidor pagar mais caro por uma coisa que, na prática, é a mesma. Palavra tem poder. Só em ouvir o nome “premium" e seus similares, nosso cérebro interpreta como um serviço ou produto de alta qualidade, para poucos, inclusive. E o cara pálida fica como? Doido pra fazer parte desse universo.
Marketing dos marketings, tudo é marketing.
Mas vejam só, caríssimos terráqueos, se a moda pega? Imagine que você vai tomar umas canas e na hora que o Balboa estiver servindo a purinha, para na metade do copo e pergunta: “Conhece o Peter?” Ou então, você lá com a sua Dona Maria, na intimidade de seu quarto, Kenny G tocando no renomado streaming de música... Beijo pra cá, beijo pra lá, e na hora do “bem bom", de repente para tudo e ela diz pra você: “Conhece o Peter?”. Deus me livre e guarde!
E não é só isso. Nem falei (opa, tô falando agora) desse monte de malandragem comercial, como os produtos que constantemente têm o peso reduzido e você continua pagando o mesmíssimo valor, ou ainda, os preços que param em dízimas do Real sem que alguém veja o troco.
Passamos por esse condicionamento por tanto tempo, há tanto tempo, que acabamos afetados em nosso comportamento. Acostumamo-nos a fazer as coisas no mais descarado estilo “embrulha-e-manda", na maioria das vezes, para tão flagrantemente, justificar uma segunda intenção a posteriori. O pedido de um auxiliar para o chefe, de ferramentas diferentes, um prazo maior para qualquer serviço, aumento salarial, etc. et. al. Tem gestão política que faz um meia-boca só para fundamentar um segundo mandato, com slogans de campanha “O Governo da continuidade", na maior cara de pau. Nas relações familiares, interpessoais, de trabalho, estamos todos legitimando o plano premium, vez ou outra. E não façam essa cara não, pois vocês sabem muito bem do que estou falando.
O comportamento midiático, do comércio e das instituições, na verdade, reflete nosso próprio comportamento, e permanece tudo num looping eterno, um (mau) comportamento influenciando o outro, até sabe-se lá quando.
E o que aprendemos com tudo isso, crianças? Neste momento, o melhor a... Conhecem o Peter?
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