Em que mundo você vive?

“Aos 18 anos o homem não sabe nem como se diz bom-dia a uma mulher. Todo homem deveria nascer com 30 anos feitos.” (Nelson Rodrigues)

Digamos, astucioso terráqueo, que Vossa Senhoria tenha sido convidada para um determinado evento. Na semana ou fim de semana? Err… bem, isso não vem ao caso, mas vamos utilizar a fórmula para ilustrar nosso colóquio. O evento é no fim de semana, manhã de domingo, o tempo está aberto há dias, chances de céu claro, sem nuvens. Trata-se de uma ocasião familiar e relativamente formal. Agora, a pergunta valendo um milhão de reais: qual ente determinará o traje a ser utilizado?

A primeira coisa que o senhor deve ter pensado é o anfitrião. Nada mais natural, é claro. Mas pouco poder ele tem para tal. Antes tivesse! Ah, pasmo leitor, isso é tão claro feito a água e o semanário cronista aqui tem como prová-lo (e o fará sem muito esforço)!

Ok, transposta essa alternativa, vamos à segunda. A indumentária para a dita situação será escolhida por aquele que, no âmbito familiar, vestir-se primeiro. Correto? Às vezes funciona, sim, desde que obedecida certa combinação de resultados e alinhamento de planetas, principalmente Vênus e Marte, tome nota. Não deixe alinhado, não, para ver só.

O homem? Em que mundo você vive, ô, terráqueo? O homem já deixou de ter protagonismo e soberania nas relações, nas Olimpíadas, na política e até na Língua Portuguesa, faz é tempo. E a não ser que você esteja lendo esse texto por alguma espécie de portal místico diretamente da Idade Média, sugiro rever seus conceitos.

A mulher? Claro ou óbvio? Nem sei como o assunto rendeu tanta crônica.

— Aonde você pensa que vai, assim? – diz Dona Maria, com a sobrancelha arqueada.

— Qual o problema? – retruco com a voz carregada de indiferença.

— Tirando que você está vestindo bermuda, sandália de dedos e uma camisa do Ace Ventura, problema algum.

— E o que há de errado nisso? – contraponho, abrindo os braços e me autoexaminando.

— Meu amor, estamos indo na primeira comunhão do nosso afilhado!

Viram? Geralmente elas têm razão. Ô, se têm. E o pior (ou melhor) é que a coisa é tão simples e fácil de resolver, que beira o absurdo ficar batendo o pé por picuinha. Então, quando a digníssima senhora sua esposa perguntar o que você vai vestir, responda com firmeza: “O que você achar melhor, querida!”. Ela vai retribuir, um tanto encabulada e com falsa modéstia, preparando sem saber o seu xeque-mate: “A gente tem que estar vestido de acordo com o que eles pedirem...”. É nesse momento que você mata a pau: “Dona Maria, o anfitrião talvez mande na casa dele, mas na minha casa e no meu coração quem manda é você!”.

Pronto! A questão do parágrafo primordial foi resolvida e ainda que seu traje não esteja adequado ao evento, está de acordo com a primeira dama do seu lar. E isso basta (ou deveria bastar). Afinal de contas, você quer ser feliz ou quer ter razão?