Interrompemos nossa programação
“Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro…” (Adriana Falcão)
Interrompemos nossa programação para uma notícia muito importante: o Carnaval já começou! Não, dileto leitor, o senhor entendeu errado. Ou fez-se de desentendido. O feriado é só na terça que vem, mas estamos fora do ar por problemas técnicos, emocionais e culturais desde o réveillon – talvez, há mais tempo ainda. E de boas, ninguém está a fim de voltar à programação normal.
O Carnaval é a suspensão da realidade, conceito tradicionalmente aplicado na literatura, no teatro e no cinema. O acordo tácito, permite a aceitação das premissas de um trabalho de ficção, mesmo que nos pareçam fantásticas, impossíveis ou contraditórias. Suspende-se o julgamento em troca da diversão. Até aí, problema algum, o inconveniente é que o tupiniquim, vem gradativamente estendendo a folia a ponto de estar em ritmo de festa desde a comemoração pelo ano novo, e inclusive após a quarta de cinzas.
Não percebeu? Fala sério, terráqueo. Depois do réveillon, fica tudo meio cinza até o Carnaval, não é branco nem preto, não é rotina de compromissos, nem férias. Tudo funciona meio a base do “embrulha e manda", “para inglês ver". E levando isso em consideração, equivale a dizer que o Carnaval não é uma data comemorativa, o Carnaval é um estado de espírito. Sendo assim, aplicamo-lo onde e quando bem entendermos.
Os fins de semana são carnavais fora de época, começam na sexta e terminam no domingo, com uma janela mística de um dia a mais, pretérita ou posteriormente. Se houver feriado ou ponto facultativo no meio, mais tempo ainda.
Contudo e sobretudo, tem cara pálida que passa o ano inteiro mascarado, fazendo passinhos, balançando uma sombrinha colorida pra cima, cheio de alegorias, samba-enredo e o escambau. Nada é sério. Aliás, para a maioria de nós (fomos doutrinados a isso e deixamo-nos doutrinarem) a programação normal é estar fora do ar, e em nossa sociedade, o que se torna comum se torna igualmente legítimo. A minoria crítica, que se preocupa com as decisões políticas, problemas econômicos, a saúde e educação públicas, passa a ser considerada excêntrica, marginal.
Por isso, e principalmente por isso, anime-se festivo leitor, porque, para a alegria de muitos e pesar de todos, o Carnaval já começou (faz tempo). E não tem hora para acabar!
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