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Não concordo

Por George dos Santos Pacheco
14/08/24 - 08:20

“A pessoa que concorda com tudo o que você diz, ou é tolo, ou está se preparando para enganá-lo.” (Kin Hubbard)

Não concordo. Não concordo – e isso é definitivo. Aliás, raramente eu acato uma situação, opinião ou comportamento sem antes questionar, sem fazer algum tipo de glosa ou crítica, em um arrebatamento quase irrefletido. Com frequência, a mente se ocupa das mais variadas objeções e protestos até que eu me sinta totalmente convencido, como se estivesse em uma defesa inconsciente contra uma precipitada colonização.

Tomemos, por exemplo, o caso do nosso “caldo verde”. Tudo bem, isso pode lhe parecer um tanto esdrúxulo e prosaico, mas vamos usá-lo como ilustração para nosso palavrório semanal. De jeito nenhum aceito que um caldo feito com batata inglesa seja chamado de verde. Batata é amarela, cara pálida. Não é injusto, não é quase obsceno, que se aproprie do verde de sua amiga couve e desse préstimo se beneficie? Não posso admitir uma coisa dessas, honorável terráqueo. Verde mesmo é o creme de ervilha, por ostensivo merecimento.

O senhor pode achar que essa reflexão é um exagero – e tudo bem. Sinta-se à vontade para discordar. Entretanto, não irei me aprofundar nas razões por trás disso, pois isso levaria a justificativas e explicações que pertencem a outra crônica, não a esta. Divagamos tão somente sobre tudo aquilo que não se aprova, e isso já é um bom, um prodigioso começo. Sendo assim, prossigamos.

Não concordo com o preço da gasolina, dos alimentos, dos medicamentos e da conta de luz. Não concordo com as ruas esburacadas, com a falta de vagas públicas para carros no centro da cidade, com o valor da passagem de ônibus (máxime pelo serviço prestado por meio da concessionária de transporte público ao preço que pagamos), e o excesso de pontos de táxi. Não concordo com a política municipal de descarte de resíduos e a sua coleta, com a poluição de fios pendurados em postes, com a (i)mobilidade urbana, com a falta de critérios éticos e justos para candidaturas políticas, com a falta de preparo da maioria dos nossos representantes. Não concordo com a súbita (e desinteressada) atenção e zelo dos governantes com a população às vésperas da eleição. Não concordo com essas e outras questões, mas sejamos francos: contra a maioria, o que posso fazer? Apenas discordar. Assim, resigno-me, pesarosamente.

Não acedo, de forma igual e ainda mais estupefato – por motivos óbvios – ao fato de um camarada quebrar o carro em plena tarde de sábado (no centro da cidade, observe) e não encontrar uma só loja de autopeças aberta para comprar uma indispensável bateria ou, ao menos, um cabo de transmissão de carga (cujo apelido furto-me de citar). E olha, meu senhor, que eu liguei, mandei zap, garoto de recado e até sinal de fumaça, recostado no para-lamas, circunvagando a vista e indignando-me com o ir e vir de entregadores de fast food em suas motos, bicicletas, paraquedas... quiçá drones. Estalei os lábios, num muxoxo. E eu lá queria lanchar? Este foi, para mim, o deboche do absurdo.

O senhor novamente pode considerar tudo isso um grande exagero, talvez por nunca ter ficado a pé em tais circunstâncias. Ainda assim, não consinto a semana inglesa, senhora da rotina destas plagas desde 1970 e tal. “Contra ela, porém, o que posso?”, penso eu, desmedidamente, a reflexão marcada de uma emoção vizinha da mágoa. Nada, terráqueo. E por isso também não concordo em satisfazer-me apenas em discordar. Não concordo – e ponto.


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