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Ninguém será condenado

Por George dos Santos Pacheco
05/06/24 - 12:37

“A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte.” (Titãs)

O governo está dando prosseguimento a uma campanha interessantíssima sobre os malefícios do consumo demasiado de bebida alcoólica. Ora, qualquer cervejinha rococó em latas de alumínio está beirando quatro pratas no mercado; no boteco, então, a garrafa sai a sete, oito mangos. Oito! O recado está dado, embora implícito: não bebam.

Deveríamos nos orgulhar disso. Chega a ser bonito toda essa preocupação e cuidado. Abre parênteses. Se levarmos em consideração, ademais, que tudo vem se gourmetizando nesses últimos tempos, inclui-se no projeto as brejas premium, ainda mais caras, modelo observando por um sem número de produtos e serviços. Verdade seja dita: a malandragem está em piorar a versão básica e injetar reais no preço por um pseudovalor agregado. Fecha parênteses.

As autoridades são reservadas e não desejam louros para si. Exatamente por isso, não fazem alarde de seus prodigiosos cuidados. Contudo, a campanha para combater o excesso de consumo de carne vermelha é muito mais óbvia. Para se ter uma ideia, o valor médio do quilo da carne de primeira está na absurda faixa dos quarenta reais – isso sem contar os “grill", os “prime" e similares. Olha aí o governo, novamente preocupado com o tupiniquim: proteína em exagero sobrecarrega os rins e pode causar hipertensão no futuro. Fica a dica: não bebam cerveja, não comam carne.

Ô, ô. Calma aí! Eu sei que a dita cuja teve uma discretíssima(bota discretíssima nisso) redução nos preços, devido a uma maior disponibilidade do produto no mercado interno, entretanto, ainda está muito cara em comparação com o período pré-pandêmico, você sabe disso tão bem quanto eu. Sendo assim, não me aponte o dedo e aproveite esse minuto para raciocinar com o Tio Pacheco, estupefato leitor. Vê se eu não tenho razão.

Hé bien. Isso tudo eu pensei parado e boquiaberto, por alguns segundos, em frente a uma gôndola de bebidas no mercado. Um tanto frustrado e melancólico, segui empurrando o carrinho pelos demais corredores. Pensemos nas prioridades, claro. Dona Maria chamava, sua voz, contudo, era distante, difícil de captar minha atenção; o mais velho ria de qualquer coisa, o mais novo retrucava; o sistema de som executava um lounge, e eu, permanecia incólume a eles, absorto e embasbacado. Ora, ninguém poderia ser condenado por uma coisa dessas.

“O governo está preocupado com o nosso bem estar”, eu ruminava, protestando mentalmente no silêncio da minha reflexão. Não tem outra explicação. Ora, se não. O café, o leite, o açúcar, o arroz, os legumes e as verduras, a gasolina, o pedágio, a energia elétrica, os impostos, o cinema, os livros, o transporte público, a consulta médica, os remédios... todos eles nos são cada vez mais dispendiosos. Afinal de contas, o que é que não está caro nesse país?

Se isso não é um incentivo velado do governo para que a gente fique mais em casa, coma menos carne vermelha, coma menos carboidratos processados, não beba cerveja, não adoeça... do que se trata então? Ahn?Ah, tá. O nome disso é excesso de zelo. E ninguém será condenado por uma coisa dessas.


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