Um plano infalível
“A melhor maneira de evitar que um prisioneiro escape é garantir que ele nunca saiba que está na prisão.” (Fiódor Dostoiévski)
Esse negócio de smartphones e redes sociais só pode fazer parte de um plano maquiavélico de dominação mundial e manipulação das massas. Só pode ser. Leve em consideração, estimado leitor, o tempo que passamos utilizando os pseudoserviços (de que me servem, afinal?), as rusgas familiares, a demasiada exposição de dados, corpos e hábitos, isso sem contar a ostentação falaciosa de realidades questionáveis. Das duas, uma: ou tem alguma coisa muito errada, ou decididamente, algo não está certo.
Opa, eu ouvi esse “exagerado” aí, hein? Reflita comigo, meu senhor: Quantos de nós se arrependeram de ter comentado algo inoportuno numa rede social? Coisas que, num diálogo tête-à-tête, de forma alguma alguém faria. É o que esse aplicativo induz, a função dele é exatamente essa, a interação entre indivíduos, numa escala nunca vista na sociedade. Exatamente por isso, pela falsa sensação de impunidade, inclusive, surgem bizarrices descomunais.
É um plano infalível, putzgrila. Repare bem que é uma evolução sarcástica da TV, das novelas e programas de auditório. Antes a gente emendava do folhetim das seis ao das sete, oito e nove, um telejornal no meio (só pra enganar) e ainda jantava assistindo a programação, um estímulo descarado e sorrateiro à passividade e à suspensão da atividade intelectual. Hoje em dia, o que fazemos? Saltamos de rede social em rede social, curtindo e dando joinhas, rindo de vídeos de animais e lendo superficialmente manchetes de notícias tendenciosas – e jantamos com o celular sobre a mesa. Se a criança estiver chorando, entrega-se um celular nela, e está mais que resolvido.
E tudo isso, na palma de nossas mãos, cara pálida, por um preço que podemos pagar! Até para o banheiro carregamos essa parafernália, Deus do céu. Em que nos tornamos? Se antes nos escornávamos para comprar uma TV maior, agora o fazemos por um celular de última geração e com memória suficiente para rodar todos os aplicativos, inclusive aqueles joguinhos infantis que apenas adultos jogam.
Ah, antes que eu me esqueça. De brinde, o dispositivo (que deve ter menos de cinco por cento do que Graham Bell imaginou), emite uma luz branca que inibe a produção de melatonina (hormônio do sono), segundo um artigo do professor de medicina do sono Charles Czeisler, da Universidade de Harvard. Isso é semelhante a uma imensa granja com a luz acesa vinte e quatro horas por dia para os frangos consumirem ao máximo e engordarem em tempo recorde para o abate.
Enquanto o dedo escorrega no touchscreen, a família, a esposa, os filhos ficam em segundo plano, as discussões saudáveis sobre a vida, a politica, a economia permanecem à margem, porque a maioria de nós nem sabe do que se trata, nem mesmo como e quando argumentar.
Terráqueo, o plano é muito bom e, quem quer que seja seu autor, Huguinho, Zezinho ou Luisinho, é bem capaz que nem imaginasse que daria tão certo. Ô, se deu. Por isso mesmo é que vou divulgar o texto para os mais chegados, utilizando os polegares mais rápidos do oeste. Se puder ajudar o cronista, curte e compartilha.
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