A raíz das diferenças
Se retornarmos à era de Péricles, na Grécia, ou ao momento do domínio máximo do Império Romano sobre a Europa, Ásia e África, as pessoas que detinham o maior conhecimento eram inferiores ao domínio tecnológico de um adolescente de quatorze anos em nossos dias. A diferença entre eles aumenta de modo exponencial quando se trata do campo afetivo.
Enquanto aquele cidadão grego ou romano conseguia transpor o final de uma relação amorosa, o adolescente de hoje, quando termina um namoro, pensa em suicídio.
Estamos diante de uma nova civilização, onde a maior doença é emocional, sobretudo porque pensamos que tudo se resolve quando amamos coisas e compramos gente.
No tempo da colônia portuguesa, no Brasil, um duque ou um barão tinham recursos médicos pouco diferentes de um camponês plantador de milho ou feijão em suas terras. Hoje, são tantos os recursos à disposição dos que têm dinheiro e poder que a vida média do carvoeiro no Pará gira em torno dos cinquenta e dois anos e entre os urbanos, bem situados economicamente, a vida pode ser prolongada por muitas décadas a mais.
Enquanto o século XX propunha uma globalização capaz de diminuir as diferenças entre as pessoas, adentramos o século XXI com diferenças gritantes e capazes de desencadear êxodos como o que presenciamos no Oriente Médio, norte da África e América Central.
Vale dizer que a terra prometida ficou reduzida e destinada a uns poucos, enquanto muitos tendem a buscá-la, marchando pelos desertos da miséria ou atravessando mares revoltos sem a ajuda do cajado de Moisés para atravessar o mar vermelho.
Mas, de onde vem tanta diferença que leva governos a pensar em proteção de muros ou fronteiras militarizadas? A razão principal está na biotecnologia, na bioengenharia e em todos os recursos “nano” que garantem o surgimento da inteligência artificial (IA).
É, sem dúvida, esta IA que nos separa e exige de todas as instituições uma busca incessante de conhecimento cada vez mais avançados. Estamos diante de uma revolução tecnológica que impulsiona uns a pensar que terão o poder quase divino. Ao passado de Bossuet, defendendo o poder como um direito concedido pela divindade, contrapõe-se este século, onde os humanos sentem-se como se fossem deuses ou, pelo menos, têm a quase certeza de poder encontrar a divindade em si mesmos.
Desenvolvemos a IA e, para conseguir equilíbrio nesta sociedade de humanos, trabalhar duro para aumentar diariamente os conhecimentos será o caminho para a diminuição das diferenças, num mundo que se avizinha com um grande potencial de dispensar o trabalho, transferindo-o para um robô que controlará e ditará os caminhos para seguirmos. O perigo é sermos escravos de algoritmos, estruturados por robôs com Inteligência Artificial que se abastece de informações que nós mesmos disponibilizamos nas redes sociais.
Hamilton Werneck é pedagogo, escritor e palestrante.
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