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Aparentemente “domados”

Por Hamilton Werneck
09/12/19 - 17:41

O artista marroquino que faz esta exposição no Centro Pompidou, em Paris, alerta para uma situação até desejada nas escolas de conseguir uma padronização de todos os alunos, uma submissão aos parâmetros tradicionais e uma aquietação diante de tudo o que é novo apresentado neste século.

Foto: Arquivo pessoal/Hamilton Werneck

É uma crítica à acomodação e uma crítica à falta de crítica. Uma sala homogênea, formada por seres semivivos, aparentemente incapazes de se posicionar diante do mundo e, ao mesmo tempo chamando à atenção de quem os vê, para a iminente explosão da insatisfação embrulhada em papel de alumínio.

Diria o cantor brasileiro: “é a fera ferida”, acuada nos cantos, envolvida em desencantos com o que aprende e com o que não aprende. Não aprende conteúdos e não lê o mundo, portanto está condenado a situações terríveis: de um lado a ficar desempregado por não saber onde está, para onde vai e o que sabe fazer; de outro, se só assimilar os conteúdos da escola poderá estar passando por um treino para ser, em futuro próximo, um “monstrinho”. Não se trata de coisa diferente daquela chamada de atenção de Paulo Freire para as reações de uma consciência ingênua.

A sagacidade deste artista nos diz em cada imagem que retrata uma pessoa dominada, os perigos latentes provocados pelos que conseguem sair deste casulo, sua caverna platônica moderna.

Qual será a consequência? Quem surgirá deste mundo com disfarces de controle? Seriam todos eles os ovos de serpente prontos para vir à tona? Seriam estes, os alunos imaginados no clip do conjunto Pink Floyd para a música We don’t need no education? Também eles desejam que os professores deixem seus alunos em paz porque não querem mais ser um tijolo para construir os muros da própria prisão?

O espanto do mestre diante dos homens e mulheres-casulo é o retrato do medo pelo que poderá surgir quando perceberem que estão relegados às sombras da caverna platônica e desejam enfrentar a forte luz do ambiente, mesmo que entre eles surjam outros elementos nada pacíficos e até destruidores, fantasiados de “black-blocks”.

Seria importante que as escolas refletissem sobre esta cena artística e profundamente marcada pela realidade da doma ainda existente que não conseguiu fazer com que mestres e pedagogos pensassem sobre o barril de pólvora em que estão sentados.

Os soldados, quando embrenhados numa floresta, começam a perceber um silêncio diferente, onde os pássaros não piam, nem voam; os indígenas que nesses mesmos locais não percebem a presença de pequenos animais deslocando-se sem medo, são tomados de extremo pavor porque tudo é sinal de que algum animal feroz está espreitando para atacar.

Hoje, a ingenuidade de certos educadores não deixa ver dentro do casulo, não faz antever um futuro próximo, quando, na verdade, podemos estar próximos do fim de uma estrutura escolar que oferece pouco, não é mais aceita, está defasada no tempo e no espaço, não preparando, ao mesmo tempo para o que a vida e a sobrevivência requerem.

O que faz com que certa espécie de vagalumes na Indonésia fique reunida em torno de uma árvore piscando em conjunto para atrair as fêmeas a uma grande distância? Simplesmente uma reação caótica.

Esta imagem é a mesma da sala abarrotada de alunos e alunas – casulo que no despertar de um momento mágico iniciarão a marcha na busca das transformações.

Quando isto acontecer, não nos espantemos, pois estaremos diante de uma realidade que, antes, considerávamos utopias.


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