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As bolachas abandonadas

Dois anos do Multiplix tem sido uma batalha contínua para atender aos anseios coloridos das bolachas que não estão nos extremos

Por Hamilton Werneck
28/05/20 - 08:15

Por volta de 2.500 anos antes de Cristo, o filósofo Mani, residente numa região onde se localiza o Iraque, defendia uma teoria de que só teríamos na vida dois caminhos: o certo e o errado ou o bom e o mau. Enfim, quem não está do meu lado, está contra mim e não há meio termo para nada. Tal teoria recebeu o nome de maniqueísmo para honrar seu fundador.

Em tempos de “guerra fria”, após a segunda guerra mundial até 1989, quando Michail Gorbachev governava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, o mundo dividia-se em dois blocos: capitalismo de um lado, comunismo do outro. O restante procurava alinhar-se a um ou outro lado. Por isso, quando o muro de Berlim foi derrubado, a União Soviética perdeu parte significativa de seu território, muita gente ficou sem saber, exatamente, para onde ir, lembrando uma das cenas finais do filme de Spilberg, “A Lista de Schindler”. A guerra acabara, o campo de Auschwitz abriu seus portões e os prisioneiros liberados; a cruel dúvida permanecia sobre qual caminho seguir para aquelas pessoas massacradas em sua humanidade nos campos de concentração nazistas.

O coronelismo político e social que abrangeu, no Brasil, os ciclos do açúcar e café, não teve contornos diferentes: ou o eleitor estava do lado de um ou de outro “coronel”. Não importava se um deles fosse o conhecido “santo” popular, Padre Cícero Romão Batista. E quem visitar o Juazeiro do Norte e for até o túmulo do “Padim” encontrará, na disposição dos sepulcros algo muito curioso: no pé do altar está sepultado o Padre Cícero Romão Batista; dentro da igreja os coronéis mais chegados ao “ Padim”; no adro da igreja, portanto, do lado de fora, os menos chegados, porém ainda do lado do “coronel-santo popular”; o túmulo das oposições qualquer um pode continuar procurando pelos arredores de Juazeiro do Norte.

Logo após nossa independência, ou melhor, daquele acordo entre Pai e Filho que acabou retratado na letra da música “ou ficar a Pátria livre, ou morrer pelo Brasil”, dois partidos políticos eram fortes: O partido português e o partido brasileiro, este último, sem dúvida, era o “centrão” da época. Prova disso foi o fato posterior ao retorno de Pedro I a Portugal em 1831. O partido português queria o retorno de Pedro I ao Brasil e o partido brasileiro desejava coroar Pedro II. Mas, ao longo de nove anos, foram engolindo a regência, ora com três pessoas, ora com uma, para que Pedro II atingisse a maioridade. A crise aumentou, o perigo era o regente Diogo Feijó que ameaçava proclamar a República. Chegamos a 1840, estando Pedro II com 14 anos de idade. Foi nesta crise que o partido brasileiro, nome do “centrão”, naquela época, resolveu atender às forças dominantes com uma atitude pouco constitucional, também retratada num verso popular: “viva Pedro II, mesmo sem ter idade, abaixo a Constituição e viva a maioridade”. As nossas Cortes, nome do Congresso Nacional à época, diminuíram a maioridade para 14 anos, coroaram Pedro II e voltaram a maioridade para os patamares anteriores, logo após.

Deveriam perguntar: de que lado você está, do partido português ou do partido brasileiro?

A história Universal e a história Pátria estão marcadas pelas posições antagônicas, isso não representa novidade alguma na vida humana.

O que é anacrônico é chegarmos ao século XXI com estes mesmos critérios de julgamento, olhando as bolachas em cada extremidade, esquecendo as demais com variadas cores e necessidades.

As democracias lidam com essas diversidades e, o escritor argelino, radicado na Europa, Jacques Derridá, trabalhou muito bem a questão da diferença (la différrence). Democracia implica lidar com diferenças de pensamento, artes diferentes, correntes filosóficas diferentes e pessoas diferentes. Não saber lidar com esta gama ou caldo cultural é um atraso histórico que remonta 4.500 anos. Hoje, vivemos isto no Brasil, em que pese o fato de pessoas, políticos, governadores, setores do judiciário conseguirem espernear e até impor derrotas a este pensamento.

Não é estranho às democracias a existência de conflitos e do contraditório. Trata-se de coisa normal, salvando-se as cláusulas pétreas da Constituição Federal. Portanto, discutir, discordar, propor e contrapor é coisa normal. O que não é normal dentro da democracia é o que se chama de CONFRONTO. Vale dizer: fomentar brigas, criar encrencas todos os dias, exatamente para que a distração provocada pelo confronto, permita a DESRUPÇÃO, ou seja, o desmantelamento das estruturas, a demolição do edifício democrático. É próprio de quem confronta, a criação de judicializações a todo o custo e a toda hora. Evita, o confrontador, a necessária paz para que se governe.

Pensemos: a desrupção só consegue acontecer se não houver governo e, se o governo for desruptivo, a ele mesmo interessa manter o clima de beligerância porque este clima favorece as aglomerações em torno, apenas, de duas bolachas. Nisso consiste o atraso levando a sociedade para caminhos menos justos e perfeitos.

Tal situação joga a maior parte da sociedade na desgraça do desemprego, nas dependências de juros escorchantes, na convivência com as injustiças, acabando por fazê-la ver acordos, antes considerados nefastos, praticados pelos políticos derrotados nas últimas eleições. Simplificando: o discurso que derrotou o adversário, faz parte da prática da governança apelidada de “nova política”.

Estamos sentados sobre uma bomba humana, prestes a explodir. Não se controla a massa necessitada oferecendo BRIOCHES, como fazia Maria Antonieta.

E, se há sempre uma guilhotina enferrujada, encostada em algum galpão, aguardando o pedestal, lembremos de Sartre que dizia que o fascismo era uma cadela que estava sempre no cio.


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