Exilados e nômades
Exilados são pessoas do passado histórico banidos de sua terra natal para viver em outra cultura e nômades representavam os que, sem rumo, vagavam por continentes diferentes. Geralmente, tanto uns quanto outros, não eram bem vistos por onde passavam, sendo temidos pela falta de compromisso social e político com a terra e a cultura onde estavam, temporariamente, habitando.
O mundo mudou e trouxe para o nosso convívio um conceito diferente para exilados e nômades. Até produtos podem ser nômades. Um exemplo disso é o livro, primeiro nômade a ser produzido em série. Se você não acreditar, experimente emprestar um livro. Em pouco tempo não saberá mais onde encontrá-lo. Ele andou e sumiu no espaço-tempo.
Nômades modernos, além de título acadêmico de livros, são os profissionais que não têm local fixo de trabalho. Minha experiência profissional evoluiu do sedentarismo para o nomadismo, exatamente o contrário da história dos humanos, o que requer uma adaptação muito grande e rápida. Uma vida de professor, docente e horista, fixa a pessoa em escolas e cidades. Palestras e assessorias, dependem das agendas. O profissional precisa ser encontrado para desenvolver o seu trabalho.
Se no passado e mesmo em nossos dias os nômades causam espanto às pessoas, há uma parcela deles benvinda e desejada, reunindo aí competentes profissionais, onde o campo de trabalho pode ser mais amplo que o território nacional. Se nômade, no passado, era um conceito gerador de espanto e dúvidas, no presente tem um significado positivo, completamente diferente.
O mesmo acontece com os exilados. Antes, o exílio era em terras distantes. Europeus exilados nas américas ou na Ásia. Ingleses exilados na Austrália. O exílio, hoje, ocorre dentro de nossas casas e apartamentos. O escritor italiano Mássimo Canevacci em seu livro “Culturas Extremas”, aborda a questão atual do e-scape. Trata-se do exílio dentro do cristal líquido da tela de um computador. Se um geólogo fizer uma pesquisa sobre o delta do rio Parnaíba, usando textos em HTML, encontrará sugestão sobre outros deltas, chegando ao Egito, convivendo com pirâmides, sarcófagos e múmias. Tal será o envolvimento com imagens e novidades outras que o pesquisador esquece de seu corpo físico, pela absorção e espanto diante do inesperado.
Poderá, inclusive, ser chamado e não ouvir voz alguma. Tal comportamento não representará falta de educação e, sim, a surdez provocada pelo e-scape. Um verdadeiro exílio. Nada em seu entorno chama a atenção, só a telinha o absorve na totalidade.
Precisamos de uma outra educação sobre estes dois comportamentos para adequar a vida real à vida virtual. Se abandonarmos os avanços tecnológicos seremos descartados e não serviremos para acompanhar os rápidos passos de nossa civilização; se não tivermos uma nova concepção sobre a mobilidade dos humanos sobre a terra, estaremos pensando nos conceitos superados sobre o nomadismo.
A preparação deverá ser contínua. Adequação de tempos para a virtualidade e para a realidade, sempre com atenção às diferenças entre uma e outra. Visão local e visão global que exigem um outro tipo de adequação, discernindo a todo momento a atenção ao locus onde me encontro e ao espaço, quase interplanetário com que me comunico.
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