O algorítimo pode nos dominar
Professor Hamilton Werneck
Gostamos de definir os termos, sobretudo quando não os conhecemos. Importante, portanto, definir o que é um algoritmo.
Trata-se de uma sequência feita de regras, raciocínios ou operações que, aplicada a um número finito de dados, permite solucionar classes semelhantes de problemas em um número finito de etapas.
Para que um algoritmo possa funcionar, são necessários dados sobre o que você deseja raciocinar, organizar, estabelecer regras.
O que permite tal façanha, por parte de um robô, é o fato de nos expormos nas redes sociais além do que deveria ser feito. Na verdade, os robôs conseguem organizar, analisar e estabelecer classes de problemas em nossas vidas porque colhem as informações passadas por nós. Por enquanto os textos não acessados são os criptografados, mas já li que esperam até 2028 ter mecanismos capazes de descriptografar textos. Então nossa intimidade e singularidade irão parar em praças públicas.
Falamos demais sobre nós mesmos nas redes sociais, respondemos a muitas coisas, informamos além do necessário, mesmo reclamando da confissão auricular sobre nossos “pecados” derramamos tudo, vomitamos tudo pelas redes sociais. Lá do outro lado não está apenas o seu “amigo” virtual, pode estar um espião, um robô a serviço de um império de dados, um Big Data que tem uma capacidade de arrumar os dados a nosso respeito conforme a classificação que mais lhe interessar. Vamos a um exemplo: imaginem um escritor que tenha publicado vários livros de literatura nos quais aparecem dados biográficos e bibliográficos, romances e histórias variadas. Some-se a isto a quantidade de e-mails ou contatos no Facebook entre o escritor e seus leitores ou editores.
O estilo literário, o pensamento filosófico, os movimentos literários, o pensamento político e as muitas teorias defendidas pelo autor serão as classes de problemas que, estudadas e organizadas, permitem entender o que este autor gosta de ler. Então, uma editora que tenha alugado um desses robôs saberá qual tipo de livro e como organizar a resenha para convencer este escritor a comprar a obra. Além disso, fornecerá dados, os mais difíceis de serem analisados após a leitura da obra, sobre o pensamento deste autor. Seria ele um iluminista, um romântico, um marxista, um liberal quanto à economia, quais os seus conceitos éticos e morais, quais os seus princípios religiosos, que regime político defende, que reações costuma apresentar nos debates, qual seu tipo de personalidade – se combativo, tímido, emotivo, crítico, submisso ou não.
Como se vê, poderão vender qualquer coisa para você a não ser que se estruture dentro de seu âmago duas questões importantes, ambas estribadas na capacidade de desobedecer: não fornecer dados quando solicitado e não aceitar ser influenciado. As duas são difíceis porque as ofertas falarão ao seu tipo, ao que você gosta ou até mais ama.
Se você não desobedecer, dado que as propostas são quase uma ordem e vêm envolvidas em argumentos de autoridade, você será uma pessoa completamente dominada pela máquina que desenvolveu uma Inteligência Artificial (IA).
Aprendemos nas famílias e escolas a obedecer. Hoje, a sobrevivência e a liberdade exigem a desobediência.
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