Pe. Josafá, vigário episcopal para o Meio Ambiente da Arquidiocese do Rio, escreve sobre os legados do papa Francisco
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Vivemos nestes dias uma mistura de tristeza e alegria com o falecimento do amado papa Francisco, admirado pelos católicos, outros crentes e não crentes. Tristeza, pela ausência do maior líder religioso mundial, que com seu modo de ser e proceder, tocou o coração de todos. Alegria, por nos deixar um legado que será sempre lembrado pelas pessoas que buscam valores transcendentes, paz, simplicidade, justiça e bem comum.
Além de suas sábias e prudentes palavras, o papa Francisco cativou a todos com o seu testemunho de vida, onde o poder de um sumo pontífice foi vivido com simplicidade e alegria; onde os seus carismas e dons foram convertidos em serviço ao próximo, sobretudo aos mais pobres e excluídos; onde a sua visão de profundidade se traduzia em ações concretas; onde a sua abertura para as temáticas contemporâneas eram sempre permeadas com a virtude da prudência; onde os seus inúmeros gestos simbólicos eram inspirados nas mensagens de Jesus Cristo; onde a sua preocupação em manter a milenar tradição da Igreja Católica estava em sintonia com os grandes desafios da sociedade atual; e, finalmente, onde a sua coragem em dizer muitas coisas e tomar as medidas necessárias fazia parte da sua ousadia profética.
Assim, nesses doze anos de seu pontificado, o papa Francisco conseguiu nos deixar alguns legados que jamais serão esquecidos. Dentre esses, alguns merecem ser destacados.
O primeiro é a sua sensibilidade e abertura para temáticas atuais, como a problemática ambiental, expressas na Encíclica Laudato Si' e nas exortações apostólicas Laudate Deum e Querida Amazônia. Dado a importância das mulheres na nossa sociedade e na Igreja, não podemos esquecer as diversas nomeações femininas realizadas por ele, para ocupar cargos dentro do Vaticano, coisa que no passado eram apenas prerrogativas dos homens. Também é de bom alvitre recordar os cuidados pastorais que ele teve com os homoafetivos, os idosos, os recasados, os migrantes etc.
O segundo legado é a reforma da cúria romana, onde ele teve que enfrentar resistências, divisões e incompreensões, imprimindo uma cultura de transparência nos processos econômicos e religiosos. É certamente um legado positivo para o seu sucessor, mostrando para a sociedade a importância do uso pastoral, missionário e responsável dos recursos usados na evangelização.
O terceiro legado foi a coragem que o papa Francisco teve de enfrentar e disciplinar alguns problemas espinhosos, que além de afetarem a missão evangelizadora da instituição, mexem também com a credibilidade da Igreja na sociedade, como a pedofilia, o clericalismo, o mundanismo, as ideologias, entre outros.
O quarto é a cultura da sinodalidade, que consiste em caminhar juntos, procurando ouvir as diferentes opiniões, deixar que o outro expresse livremente aquilo que o Espírito Santo está lhe inspirando, não ter medo de debater as verdades, procurar agir com reta intenção e aprender a discernir para encontrar a vontade de Deus. Certamente, esta cultura unirá mais os bispos, padres e leigos que trabalham na evangelização dos povos.
Que esses legados e testemunhos do papa Francisco possam servir de referências para todos nós que desejamos um mundo mais conforme a vontade de Deus, onde o amor supere o ódio, a paz vença a violência, a fraternidade prevaleça diante das guerras e divisões, e que juntos possamos cuidar da Casa Comum planetária, deixando um mundo mais humano e sustentável para as gerações futuras.
Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ – vigário episcopal para o Meio Ambiente da Arquidiocese do Rio de Janeiro.
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