O caldo cultural está fervendo no caldeirão das bruxas
O choque paradigmático é muito mais profundo porque ele atinge a axiologia, ou seja, os valores, a ética e a estética. E sobre isto vamos discorrer para reaprender e até desobedecer.
No último debate antes do primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, em 2014, houve um momento crítico que continua alimentando processos na justiça por injúria ou algo semelhante, quando um candidato típico do paradigma hebraico afirmou, dirigindo-se à outra candidata, firmemente defensora do paradigma grego que o “anus não procriava”, numa alusão clara à sua postura de não defender determinadas minorias sexuais. O palco onde se encontravam os candidatos transformou-se em praça de guerra. Os oponentes não lograram passar ao segundo turno.
A visão do paradigma da sociedade laica sobre os valores (axiologia), defende que sua construção se dá no relacionamento entre as pessoas, conforme o tempo e lugar e são mutáveis. De outra parte o paradigma hebraico defende que os valores são perenes e formam a base do caráter. Vê-se, portanto que o laicismo de nossa sociedade é tipicamente grego.
Na última eleição para a presidência da república no Brasil, em 2018, o paradigma grego reuniu entre votos e não votos, 90.000.000 de eleitores. Os demais, onde nem todos apoiam a agenda moral, somaram 57.000.000.
Por isso percebe-se que os embates vão continuar com chances menores para a agenda moral proposta na última campanha.
A ética, na proposta laica é individualista. O individual está acima do coletivo. Por isso mesmo os liberais apoiam agendas econômicas neoliberais e não dão guarida às agendas morais. A agenda bíblica, de inspiração hebraica, observa o coletivo, o bem-estar social com inspiração divina. Ora, o mundo laico não considera a divindade.
E sendo uma sociedade, em sua estrutura, democrática, será muito difícil querer que um grupo de pensamento se submeta ao outro, portanto, aprender a conviver é a única possibilidade para equilibrarmos a sociedade. Escolha a sua Arca nesse dilúvio sem fim para ter paz consigo mesmo e pare de atirar sobre as Arcas consideradas diferentes da sua.
A estética é outro ponto da discórdia. O paradigma hebraico defende a arte como a expressão do belo. A arte é uma atividade de re-criação. Ao lado, o paradigma laico introduziu na arte os valores do feio, do horrível, do impacto causado pela desordem. Numa, a arte visa atingir a ordem; noutra, o prazer estético pode estar aliado à desordem.
Grupos em nossa sociedade aceitam, enquanto outros se revoltam. Governantes, conforme, seus credos, cortam verbas de exposições. Outros mais afoitos invadem recintos destinados a elas. Temos a impressão que estamos diante do moralismo Vitoriano, quando na Inglaterra era proibido colocar o livro de um escritor, ao lado de outro, de uma escritora, na mesma estante da biblioteca.
Ao lado disso é preciso analisar o fator familiar que, quanto mais ausente, mais transfere suas decisões para o poder público.
Há solução para este dilúvio? Sim, há. Pode não ser do agrado de todos. Precisamos discernir, precisamos reaprender a conviver, dado que não fomos educados para tal convivência. Algo parecido com os conflitos entre vegetarianos e veganos. Vegetariano é uma questão de equilíbrio quanto à saúde, veganismo é uma filosofia de vida.
Quando quisermos a predominância de nossos paradigmas sobre os demais, entraremos num conflito esquizofrênico porque, onde uns mandam nos outros, há algo errado na convivência.
E, se uma pessoa não conseguir conviver e sentir-se violentada diante de tantas diferenças, então busque uma saída criativa: reúna madeira, faça sua Arca, sabendo como o poeta que “navegar é preciso”!
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