O retorno às aulas e a ansiedade
Dois mil e vinte e um está batendo às portas, anunciando a chegada de vacinas contra a COVID-19 e criando perspectivas mais seguras para o retorno das atividades presenciais.
Há uma ansiedade no ar, tanto por parte dos professores, quanto das famílias e alunos. A sociedade está acostumada a contar o tempo no sentido grego do KRONOS. Sempre foi imaginado um ano letivo contado segundo o ano comercial, acrescentando-se a esta cronologia a necessidade do “passar de ano”. Não cabe ainda na mente de nossa sociedade uma contagem diferente em relação ao tempo, o que significa um atraso conceitual, por estar presa aos séculos século XVI e XVII. Se uma atividade levasse três meses para ser completada, a imaginação das pessoas era a de exigir um tempo igual ao anterior para repetir a mesma atividade. Nessa época, o tempo e o espaço eram considerados separados. Assim pensaram René Descartes e Isaac Newton.
Nós estamos a um século após Einstein que tratou da RELATIVIDADE, pensou tempo e espaço como um só conjunto. Então chegou a pandemia a nos exigir mudanças e não podemos mais pensar dentro do KRONOS grego, nem no espaço separado do tempo conforme Newton.
Aí está a raiz da ansiedade nesta volta ao presencial. Esta será a primeira questão a ser tratada pelos professores, alunos e famílias.
O segundo modo de pensar o tempo na Grécia antiga é o que mais se encaixa neste momento. A visão do KAIRÓS, ou seja, de um tempo dilatado. Isto não é difícil de entender. As estações do ano são kairós, o amadurecimento humano é kairós: infância, adolescência...não são momentos, tanto quanto a germinação do feijão e do arroz. Todos têm um tempo dilatado.
Daí considerar-se a medida sábia do Conselho Nacional de Educação em estabelecer os anos escolares de 2020 e 2021 como um tempo único, dilatado e perfeitamente dentro do conceito grego de kairós.
Portanto, para controlar a ansiedade que tomará conta de todos os envolvidos, nada melhor que a calma trazida por um tempo mais flexível ou, como diz a letra da música: “ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais...”. Por isso, cabe aqui a orientação dada aos alpinistas. Quando se chega ao topo de uma montanha, vislumbra-se uma paisagem apaixonante que inunda a corrente sanguínea de serotonina e provoca uma enorme alegria e felicidade, um desejo frenético de encontrar os amigos e contar, descrevendo cada lance da subida e da contemplação. Neste momento, os alpinistas precisam tomar o máximo de cuidado. Uma descida rápida, conforme a altura alcançada, pode desencadear graves problemas cardíacos e respiratórios, levando o atleta à morte. Aconselha-se vagar, ao descer.
O mesmo ocorrerá no retorno ao presencial. Volte devagar porque todos estão muito ansiosos, alguns danificados afetivamente por perdas entre seus entes queridos, outros querendo acelerar o ensino para recuperar possíveis tempos perdidos. Para evitar desastres acadêmicos e sociais, retorne devagar. Pense no alpinista e desacelere.
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