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Terceira consideração sobre a violência

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Por Hamilton Werneck
30/03/20 - 12:59

Nós somos de crueldade especial: somos ditadores sofisticados que conseguimos fazer com que nossos súditos cantem o hino da liberdade!

Quando se misturam religiões e interesses de estados surgem violências. Cruzadas contra os mouros, a retomada de Jerusalém, numa tentativa de implantar um reino feudal no oriente, vários tipos de violência diante da imposição da fé. As inquisições de várias tendências e a violência para manter a segurança dos reinos, estribados em três conceitos: um rei, uma língua, uma religião foram transformando o mundo num palco de lutas e constrangimentos.

Nem a nossa língua pátria escapa a estas situações. Quando o Marquês de Pombal impôs o português, como língua oficial da colônia do Brasil, quem ousasse ensinar outra língua ou mesmo fazer prevalecer o tupi, poderia sofrer prisão ou até a morte.

De onde se espera a paz, surge a guerra contra os que pensam diferente e acreditam de modo diferente dos outros. Lá pelo ano 2.500 A.C. na região do atual Iraque, surgiu um filósofo chamado Mani que disseminou uma doutrina com dois polos antagônicos: o bem e o mal; o certo e o errado, numa total dicotomia. O resultado era simples e objetivo: quem não está comigo, está contra mim.

Mani é oposto a Aristóteles que, em Ética a Nicômaco, defende que a virtude está no meio termo e acrescenta: “as virtudes não são paixões nem faculdades, só podem ser disposições”.

Em Mani temos a origem dos radicalismos, pessoas que não conseguem ver virtudes nas outras, por serem diferentes.

Olhando a história humana conseguimos verificar que os fundamentalismos foram tomando conta das religiões, da economia, da política, da concepção das raças e etnias. Os fundamentalismos levam ao caminho tortuoso do ódio contra o outro.

Somente nesta ótica podemos entender a violência praticada contra uma menina de 11 anos quando saia de um ritual de Candomblé, no Rio de Janeiro. E mais: não sendo suficiente a pedrada que levou na cabeça e os xingamentos que ouviu, teve que se submeter a outro vexame quando chegava ao IML para exame de corpo de delito, quando surgiram mais agressões verbais.

Vemos, então, que os problemas deixaram de ser jihadistas ou do boko-horan na Nigéria. Eles também são nossos porque estamos presenciando um florescer de perversidades, radicalismos, fundamentalismos e maniqueísmos.

Por incrível que pareça, um clima típico da Idade Média está retornando e tomando, aos poucos, contornos inquisitoriais e de intolerância.

Estas atitudes são incompatíveis com a doutrina cristã e praticadas por pessoas que distorcem aquilo que lhes foi ensinado nos templos e igrejas.

O velho ditado diz que é de pequenino que se torce o pepino, o que significa que as autoridades precisam atuar com energia, o mais breve possível, para evitar o alastramento desses disparates que ferem a Constituição Federal, não são exemplos de virtude e, sim, de agressão descabida ao ser humano em seus direitos de expressão, convivência e crença.

Penso que a escola tem a sua culpa, em se tratando de macroestrutura, quando descura a questão da convivência escolar. Os valores da convivência não estão sendo tratados devidamente, a não ser quando se deseja punir, castigar e oprimir o educando através de uma disciplina distorcida da boa e necessária educação.

Às vezes também penso que a virtude não pode estar no meio termo, caso contrário os arco-íris teriam a cor cinza. Uma virtude no meio termo poderia ser mediana ou medíocre e, para solucionar certos problemas temos de ser freirianos, ir à raiz deles.

Algumas práticas pedagógicas dentro de escolas e de conventos podem fazer mais mal do que bem.

Li em artigo recente um indigenista afirmar que os índios não batiam nos filhos. Mas, infelizmente, sacrificavam crianças quando suas mães morriam após o parto, costume que na década de sessenta grassava entre os irantches, no Mato Grosso.

Os castigos físicos chegaram com os europeus. Tanto a educação católica, quanto a protestante admitia esta prática. O auge do rigor ocorreu na escola de Port Royal, onde os jansenistas aplicavam uma pedagogia sádica. Qualquer falha era motivo de castigo.

A escola dos jesuítas de Lisboa, no século XVI ainda usava o açoite com varas para corrigir alunos faltosos. Um detalhe: quem aplicava os castigos eram os leigos, nunca os religiosos.

Conheci colegas de trabalho no início de meu magistério que eram famosas pelos beliscões que aplicavam em sala de aula. Minha mãe contava que a professora dela, no auge de sua autoridade, mantinha a palmatória dependurada na parede, como símbolo, porém, nunca a usara. Ela dá o nome à escola onde fiz meu curso primário.

Muito estranha foi a intervenção de um jornalista catarinense defendendo o uso da cinta como o melhor método educativo que os pais deveriam usar com seus filhos. Ouvindo o programa pensava estar em Esparta com sua educação militar na antiga Grécia.

Não longe estava a educação religiosa dos conventos, em que o silício era usado várias vezes por semana como participação nos sofrimentos de Cristo. Enfim, sentir uma dor menor que o Redentor. Era uma ascética que confundia pelo fato de desacreditar a redenção. Afinal, o Redentor redimiu ou não? Monges e religiosos, assim como religiosas usavam pequenos chicotes para se açoitar e peças de arame com pontas rombudas para machucar as pernas e os braços. O pior desta pedagogia é que estes instrumentos eram feitos pelos próprios usuários. Proponho à sua imaginação ver alguém preparando um açoite para usar contra si mesmo! Creio que a psicologia trataria este caso como de neurose não tão branda.

Depois do ECA (estatuto da criança e do adolescente), muitos professores e educadores que usavam estas metodologias ficaram frustrados afirmando não ter mais meios para controlar as turmas. Outros, não educadores, julgavam que este estatuto só defenderia os “bandidos” contra a sociedade instalada no poder. Na verdade, tratava-se de uma revolta por estar ficando cada vez mais difícil submeter as pessoas com menor força política, social e econômica.

Por estas razões a violência física foi sendo substituída pela violência velada, já comentada neste artigo.

Nossa civilização fez e faz sentir dor, com as mais variadas justificativas. A pior delas é quando se diz que se trata do “bem da criança”. Bem presente e bem futuro!

Assim age a pedagogia troglodita que nem sabe o que é psicologia, motivação, colaboração, afeto e reconhecimento de valores.

A disciplina escolar deve existir sob o comando de um pulso forte e de um coração que ama, para copiar um título de um livro de meu amigo Içami Tiba. A disciplina no lar deve basear-se na autoridade através da sintonia entre as partes que educam. Se os pais discordam entre si, os filhos serão deseducados.

Por fim, desembocamos numa outra lei recente, maldosamente apelidada de “lei da palmada”. O que a lei fala é da proibição de infligir dor. Então, inventaram modos de colocar a lei em ridículo. Dizia-me um psiquiatra que a palmada pedagógica que não inflige dor, deve ser aplicada de baixo para cima. A criança recebe mais força que qualquer outra coisa, percebendo que há algo mais forte na redondeza.

Como se vê, infelizmente, a humanidade através de suas instituições treina um monstrinho. Pouco resta para que ele seja um malfeitor.

À época da escravidão, a visão do senhor de engenho permitia que capatazes batessem e até mutilassem escravos, a mais barata mão de obra para estes senhores. Mutilados, tinham a própria força de trabalho diminuída. Leitura fácil: prejuízo para o patrão e dono de terras.

Outra insensatez nos chega pela polícia. Por vezes, contra a lei, batem tanto nos presos que chegam a matá-los. Acabam não desvendando crimes porque eliminaram as testemunhas.

Em Angola há uma lei que proíbe aos professores baterem nos alunos. No entanto, a violência física existe e as famílias em grande parte aprovam estas práticas. Trata-se da Lei 13 daquele país.

Os humanos desde os tempos do tacape e bordunas, vivendo em cavernas e sobrevivendo graças à força do próprio corpo, usando os movimentos macro motores apresentaram esta faceta violenta em relação aos seus semelhantes. No decorrer da história humana, mesmo havendo mudanças nos métodos, os maus tratos físicos e psicológicos permaneceram com uma capa de sofisticação.

Este conjunto de reflexões mostra, através da história, muitas práticas perversas que desembocam na violência incrementada pelo que se vê nos jogos eletrônicos, nos filmes violentos e na violência escancarada presenciada nas redes sociais.

Por fim, pensemos um pouco mais. Por que chegamos a este estágio que parece difícil de retroceder? Porque estamos amando coisas e comprando pessoas!


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