Foto da conjunção entre Vênus e Marte feita em Teresópolis é publicada pela Nasa
Astrofotógrafo diz que a Região Serrana tem ótimas condições para observação do céu
Uma foto da conjunção entre os planetas Vênus e Marte, tirada em Teresópolis, na Região Serrana do Rio, foi selecionada pela Nasa como a “Foto astronômica do dia” nessa terça-feira, dia 29.
A imagem foi capturada pelo astrofotógrafo carioca Kiko Fairbairn, no dia 4 de março, quando passava o feriado de Carnaval na cidade.
"Eu usei o Stellarium para me programar. Eu sabia que essa conjunção estava acontecendo justamente pela utilização desse aplicativo. Então minha pré-programação foi buscar um local onde eu tivesse uma composição da paisagem bonita para fazer essa foto. Eu sabia que Vênus e Marte iam sair por detrás daquela cadeia de montanhas por volta de 4h, então preparei todo o meu equipamento por volta de 3h. Fui escolhendo os equipamentos e a forma como eu queria bater a foto. Me programei e aí foi questão de esperar", conta.
Mas o registro não foi tão simples assim. De acordo com Kiko, quatro fotos, com exposição de 60 segundos cada, foram batidas no local. Além da câmera, ele usou lente, tripé e um equipamento astronômico chamado montagem equatorial.
O aparelho permite tirar fotos com longa exposição sem que as estrelas fiquem "tracejadas". Isso porque, segundo o fotógrafo, o equipamento faz a câmera girar junto com o céu, "anulando" a rotação da terra durante a fotografia.
Equipamento usado pelo fotógrafo para registrar os astros | Foto: Reprodução/Kiko Fairbairn
Ainda de acordo com Fairbairn, todo esse equipamento e a composição da paisagem, que teve como cenário a cadeia montanhosa conhecida como 'Mulher de Pedra', fizeram com que a imagem quase não precisasse de edição.
"São só alguns balanceamentos de cor aqui ou ali. Algumas utilizações também de recuperação de sombra, né? Para que a parte sombreada fique um pouco mais clara. Alguns ajustes de exposição também, mas, de forma geral, é uma foto muito pouco manuseada em termos de software de edição", afirma Kiko.
Essa é a décima vez que o fotógrafo tem uma imagem divulgada pela agência espacial norte-americana. A primeira com uma captura realizada na Região Serrana do Rio. Para ele, ter o reconhecimento da Nasa é muito gratificante:
"É como se fosse um parque de diversões, estar ali embaixo de um céu escuro. Então é legal a publicação, porque sai de um momento íntimo ali que você tá fazendo uma foto, curtindo aquele momento muito solitariamente. De repente, a foto é publicada e vai para o mundo inteiro. Essa publicação da Nasa literalmente corre o mundo, né? Em paralelo, é um sentimento de poder influenciar outras pessoas a caminhar com esse mundo da ciência, o mundo da astronomia."
O céu da Região Serrana
De acordo com o Observatório Nacional, a cidade vizinha de Nova Friburgo está entre as dez melhores cidades do Brasil para observação do céu. O astrofotógrafo também concorda com essa posição. Fairbairn já fez dois registros na cidade, mais especificamente no Parque Estadual dos Três Picos, dos quais se orgulha.
Para ele, essa região tem fatores especiais, como o menor nível de poluição luminosa e altitude, que contribuem para uma melhor captura do espaço.
"Nas cercanias de Nova Friburgo e Teresópolis, o céu é muito bom, e principalmente paisagens lindíssimas, então o que não falta é lugar para fotografar. Eu acho que isso tem um impacto muito positivo para essas publicações em revistas internacionais ou publicações por agências espaciais como a Nasa. O pessoal de fora fica encantado também com esse relevo todo belíssimo que a gente tem aqui no estado do Rio de Janeiro e isso certamente é um propulsor aí para que essas publicações aconteçam."
Registro dos Três Picos feito em Nova Friburgo | Foto: Reprodução/Kiko Fairbairn
Um amor pelo céu
A paixão de Fairbairn pelo céu é antiga. Ainda menino o fotógrafo gostava de admirar e conversar sobre os astros com o pai. Mais tarde, o carioca se encantou por fotografias, fazendo registros corriqueiros durante o dia. Mas foi no Parque Nacional do Itatiaia, na Serra da Mantiqueira, que Kiko decidiu juntar suas duas paixões e não largou mais.
"Tem um céu muito bonito lá no Parque de Itatiaia e eu, com um equipamento super simples, apontei minha câmera para cima. Com 30 segundos de exposição fotográfica e um equipamento super simples já foi possível ver nebulosas, as galáxias, estruturas do bojo central da nossa Via Láctea. Isso me encantou! Eu sabia que naquele momento eu estava preso para sempre nessa atividade espetacular."
Para ele, fotografar o céu é bem mais que capturar imagens bonitas. É se conectar com a natureza e fugir da rotina do dia a dia.
"A gente sai um pouco desse mundo humano de segunda a sexta, de pagar contas, de estar na correria, e você olha as coisas com um pouquinho mais de perspectiva. A astronomia é uma experiência de muita humildade e de crescimento pessoal", finaliza.
Para conhecer os trabalhos de Kiko Fairbairn é só acessar as redes sociais do astrofotógrafo.
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