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Mulheres se destacam na ciência em Nova Friburgo, dentro e fora do ambiente acadêmico

Parcela feminina de estudantes e professores nas áreas de tecnologia e engenharia ainda precisa aumentar

Por Bernardo Fonseca
18/02/22 - 09:36
Mulheres se destacam na ciência em Nova Friburgo, dentro e fora do ambiente acadêmico Ciência está cada vez mais feminina em Nova Friburgo | Fotos: Arquivo pessoal

Por muitos anos, elas não puderam estudar ou votar. Em muitos casos, precisavam da autorização do pai ou do marido para realizar determinadas atividades. Mas a realidade das mulheres vem mudando no Brasil e no mundo. Atualmente, a presença feminina no universo educacional e no mercado de trabalho é cada vez maior. Muitas vezes, em funções antes predominantemente masculinas. Na área científica, isso também é uma realidade.

Em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, o Instituto de Saúde da Universidade Federal Fluminense (UFF), por exemplo, oferece os cursos de graduação em biomedicina, fonoaudiologia e odontologia, além do mestrado. A maioria dos alunos é mulher. E o mesmo acontece em relação aos professores, como mostram os números abaixo.

Proporção de alunas

  • Curso Biomedicina = 74%
  • Curso Fonoaudiologia = 92%
  • Curso Odontologia = 72%
  • Curso Mestrado = 63%

Proporção de professoras

  • Departamento de Formação Específica = 53%
  • Departamento de Ciências Básicas = 60%
  • Departamento de Fonoaudiologia = 73%
  • Mestrado = 80%

Mas esse cenário não se repete em todas as áreas, como as relacionadas à tecnologia, engenharia e matemática. Segundo a ONU, as mulheres representam 28% do total de graduados em engenharia e 40% nas ciências da computação e informática no mundo. Elas também tendem a ter carreiras mais curtas e com menor remuneração.

Por isso, neste mês de fevereiro, no dia 11 mais precisamente, foi celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi estabelecida pelas Nações Unidas e tem objetivo de servir como um marco para a promoção da igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Mulheres ainda não são vistas como liderança em alguns segmentos

Ana Moreira é professora da Uerj de Nova Friburgo, desde 2014, e hoje atua na área de resíduos sólidos e reciclagem. É coordenadora do Laboratório de Sustentabilidade e Química de Polímeros (LaSQPol) do Instituto Politécnico (IPRJ) da universidade. Antes disso, trabalhou dez anos em uma empresa petroquímica, também com pesquisa.

A parte ambiental sempre foi o segmento que mais curtia trabalhar. Mas, embora a área tenha um grande apelo entre o público feminino, atua em um ambiente majoritariamente masculino, já que a Uerj de Nova Friburgo possui bem mais homens (74%) do que mulheres (26%) entre o corpo docente.

O mesmo se repete quando é analisado o perfil dos alunos dos cursos de graduação em engenharia mecânica e engenharia de computação, os dois disponíveis na universidade: apenas 19% dos estudantes são mulheres.

“A parte tecnológica sempre atraiu menos o público feminino porque as grandes empresas, especialmente no quesito liderança, sempre foram redutos masculinos, e isso leva algumas gerações ainda para mudar. E a mulher ainda não é vista adequadamente nos cargos de liderança, infelizmente”, diz.

A professora Ana Moreira se dedica à pesquisa e ao ensino superior desde 2014A professora Ana Moreira se dedica à pesquisa e ao ensino superior desde 2014 | Foto: Arquivo pessoal

A falta de mulheres em altos cargos nas áreas científicas também é apontada pela friburguense Camila Cristane, que é bacharel em ciências biológicas – modalidade biotecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e atualmente cursa licenciatura em ciências biológicas pela Uerj através do Cederj.

“Infelizmente, mulheres ainda sofrem muita discriminação em qualquer carreira fundamentalmente intelectual. Apesar de serem maioria tanto em cursos de graduação como de pós graduação (55% e 54,5%, respectivamente), seguem sistematicamente sendo minoria entre bolsistas de produtividade e cargos titulares”, afirma Camila.

No caso de Ana Moreira, ela relata que, antes do ambiente universitário, custou para ganhar o respeito dos subordinados quando trabalhava numa empresa privada.

“Eu exercia cargo de liderança e os meus liderados eram homens. Então, eu percebia que existia uma certa relutância em aceitar a minha liderança. Pela minha forma de atuar, eles acabavam aceitando, mas depois de um bom tempo”, diz.

Ana Moreira acredita que essa realidade está evoluindo e que é uma questão de tempo para que haja maior equilíbrio entre homens e mulheres nas engenharias, inclusive nas lideranças.

“A Uerj, por exemplo, tem feito um papel muito bom de mostrar as lideranças delas, femininas. A gente tem projetos internos de meninas na ciência, de mulheres na pesquisa, e acho que isso tem auxiliado. É papel da área acadêmica mostrar que a mulher tem a sua importância seja aonde for”, argumenta.

Violência estrutural contra a mulher também atrapalha

Mas chegar até a área científica, especialmente a acadêmica, ou permanecer nela, nem sempre depende apenas de um bom ambiente ou de políticas internas de afirmação das mulheres. O machismo e a violência de gênero do lado de fora muitas vezes são um impeditivo.

É o que aconteceu com a Camila Cristane. Durante a graduação, ela trabalhou com diversos projetos de pesquisa e tinha o objetivo de seguir na carreira acadêmica. Passou em primeiro lugar na seleção do mestrado, mas a 'felicidade foi por água abaixo' logo no primeiro ano, após uma sucessão de episódios de violência.

Camila explica que teve a casa invadida por um homem, foi assediada pelos policiais que foram socorrê-la quando perceberam que ela morava sozinha, passou por uma tentativa de estupro de um vizinho que a perseguiu por meses e precisou mudar de laboratório e de projeto para escapar de um colega com alta titulação que a assediava.

“Somando estes casos de violência de gênero sofridos fora da universidade com diversos fatos que aconteceram lá dentro, mas que são realmente muito mais difíceis de contar, eu decidi deixar o mestrado e a cidade do Rio de Janeiro, e desisti da carreira acadêmica”, desabafa.

Camila Cristane fala sobre ciência para alunos de escolas públicas durante a Semana Nacional de Ciência e TecnologiaCamila Cristane fala sobre ciência para alunos de escolas públicas durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia | Foto: Arquivo pessoal

Mas Camila pode ter desistido da academia, mas não de continuar divulgando ciência. Ela contribuiu com um blog sobre biologia e atualmente, além de cursar outra graduação, dedica-se ao “science hacking”, ou “ciência cidadã”, movimento que visa tornar sua área de expertise acessível por meio da educação e do compartilhamento de informação.

Assim como no caso da professora Ana Moreira, Camila relata que sempre teve o incentivo dos pais para estudar, tendo ganhado seu primeiro telescópio aos 8 anos de idade. Para as novas gerações de futuras cientistas, ela tem um recado.

“Tentem agarrar todas as oportunidades que tiverem. Vão com tudo! Mas se a sua tentativa custar caro demais, não tem problema nenhum em repensar e reajustar a rota. Não existe apenas um caminho (por mais que às vezes seja difícil enxergar outro), e - se tudo der certo - todas as que vieram antes de vocês vão, aos poucos, o deixando um pouquinho melhor de caminhar”, finaliza.

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