“Coisa de gente preta, de gay”: vídeo de pregação em igreja de Nova Friburgo repercute no país
Polícia Civil abriu inquérito e delegado diz que vai indiciar mulher por crimes de racismo e homofobia
Repercute em todo o país, desde segunda, 2, o vídeo de uma mulher que discursou contra fiéis que postam “coisa de gente preta, de gay”, durante uma pregação no último fim de semana, em uma igreja de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio. A pregadora pediu desculpas.
O vídeo foi inicialmente publicado nas redes sociais pelo jornalista e ex-deputado estadual Wanderson Nogueira. O conteúdo foi extraído de uma transmissão publicada no YouTube, que posteriormente foi removida.
“É um absurdo pessoas cristãs levantando bandeiras políticas, bandeiras de pessoas pretas, bandeiras de LGBTQIA+, sei lá quantos símbolos tem isso aí. É uma vergonha!”, disse a mulher, no começo do vídeo.
“A nossa bandeira é Jeová Nissi. É Jesus Cristo. Ele é a nossa bandeira. Para de querer ficar postando coisa de gente preta, de gay. Posta a palavra de Deus que transforma vidas. Vira crente, se transforma, se converta!”, reforçou a mulher.
Entre a tarde de segunda e esta terça, o vídeo do discurso se espalhou pelas redes sociais, como na conta do Instagram Alfinetadas dos Famosos, que possui quase 19 milhões de seguidores. Houve também repercussão em veículos de comunicação nacionais como O Dia, Revista Época, Marie Claire e Metrópoles. Celebridades também repudiaram a declaração.
Um trecho do conteúdo foi publicado pela apresentadora Xuxa, que escreveu: “Pastora? E aí, não tem prisão? Não venham falar que tá (sic) fora do contexto”. E completou em seguida: “Não tem amor, só ódio e preconceito. É por isso que muitos evangélicos são criticados, mas não vamos generalizar”.
A apresentadora Xuxa Meneghel repudiou o discurso em publicação no Instagram | Foto: Reprodução/Redes Sociais
A fala da mulher também provocou notas de repúdio de entidades como a subseção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Nova Friburgo, por meio da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero. Na nota, a comissão diz que o discurso extrapolou os limites constitucionais da liberdade de expressão e que se enquadra como crimes de racismo e LGBTIfobia.
Mulher foi indiciada por racismo e homofobia
No início da noite de segunda, o delegado da 151ª Delegacia de Polícia Civil de Nova Friburgo, Henrique Pessoa, se pronunciou por meio de um vídeo, publicado na página da delegacia, em que informou a abertura de inquérito e o indiciamento da mulher por crimes de racismo e homofobia.
De acordo com o delegado, a fala da mulher tem teor racista e homofóbico, e se enquadra no artigo 20 da lei 7.716/89, com pena prevista de três a cinco anos de prisão e multa.
“Já foi instaurado inquérito policial pelo crime de intolerância racial e homofóbica, de acordo com a recente previsão do STF”, disse o delegado.
“Ela vai ser ouvida, outras pessoas vão ser ouvidas, mas o crime está configurado. É crime de mera conduta. Assim que ela fez a referência de teor claramente preconceituoso e discriminatório. Em breve, ela será indiciada e o inquérito encaminhado ao Ministério Público para que sejam tomadas as medidas cabíveis”, finalizou.
Nota de retratação
Karla Cordeiro, autora do discurso, emitiu, na segunda-feira à noite, uma nota de retratação em que afirma que foi descuidada na forma como falou e pediu desculpas pelos termos utilizados.
“Eu, na verdade, fui infeliz nas palavras escolhidas e quero afirmar que não possuo nenhum tipo de preconceito contra pessoas de outras raças, inclusive meu próprio pastor é negro, e nem contra pessoas com orientações sexuais diferentes da minha, pois sou próxima de várias pessoas que fazem parte do movimento LGBTQIA+”, explicou.
Ainda de acordo com a nota emitida por Karla, as palavras proferidas não expressam as opiniões do pastor, nem da igreja. “A minha intenção era de afirmar a necessidade de focarmos em Jesus Cristo e reproduzirmos seus ensinamentos, amando os necessitados e os carentes, principalmente, as pessoas que estão sofrendo tanto na pandemia”, finalizou.
Nota de retratação de Karla Cordeiro publicada nas redes sociais | Arte: Reprodução/Redes Sociais
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