"Pedido de desculpa é bem-vindo, mas não repara danos", diz defesa de ator vítima de homofobia em missa

O caso envolvendo um padre e o artista friburguense, Bernardo Dugin, em uma cerimônia religiosa, no último fim de semana, continua causando repercussão em todo o país.

Por meio de um vídeo publicado nas redes sociais, Bernardo denunciou o líder religioso por um discurso homofóbico.

Segundo o ator, o ocorrido foi durante uma missa de sétimo dia, celebrada em uma escola particular de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, em memória de um parente que havia falecido.

Nesta quarta-feira, dia 3, o ator e diretor publicou em suas redes sociais um agradecimento pelo apoio que tem recebido nos últimos dias:

É duro sofrer uma violência e ler outros milhares de relatos parecidos, de gente que sofre diariamente. O que conforta meu coração é saber que não estamos sozinhos. Fico aliviado por ter recebido inúmeras mensagens de apoio de padres de todo o Brasil, que discordam veementemente da postura e violência do padre que proferiu aquele discurso.

E ainda deixou um recado para aqueles, que, segundo ele, insistem em continuar com os ataques:

Ninguém tem o direito de ferir a existência, a dignidade e honra de outro ser humano, simplesmente por amar. Não vou permitir que discursos de ódio, disfarçados de fé, atinjam a mim, a minha família e a toda uma comunidade. ‘O demônio está na representação do ódio. E não do amor’. Sigamos!

Bernardo agradeceu apoio através das redes sociais | Foto: Divulgação/Redes Sociais

A defesa do artista, o advogado Caio Padilha, disse à reportagem que o Pe. Antônio Carlos dos Santos, o sacerdote envolvido no caso, até o momento, não compareceu à delegacia para prestar esclarecimentos.

Ele falou sobre as medidas que vem sendo tomadas, desde então, para prosseguimento do caso, como a relação das testemunhas que estavam presentes na cerimônia religiosa, para serem ouvidas, e comprovar a materialidade do fato.

E acrescentou que somente um pedido de desculpas não é capaz de reparar os danos causados, já que a fala do sacerdote, segundo o advogado, não ofende somente a uma pessoa especificamente, é um crime mais grave:

O mínimo que a gente espera é o pedido de desculpas. Mas ainda assim, o pedido de desculpas não é capaz de reparar os danos, não digo nem danos do Bernardo (claro que pra ele ouvir isso tudo, junto com a família, em um momento de dor, foi muito pior), mas esse é um dano que atinge a sociedade como um todo.

No fim da tarde desta quarta-feira, 3, o Padre Antônio Carlos dos Santos pediu desculpas por meio de uma nota encaminhada pela Diocese:

Venho publicamente me manifestar no sentido de que as palavras por mim proferidas durante a Missa da comunidade, realizada na Capela Nossa Senhora das Dores (Nova Friburgo/RJ), não tiveram o intuito de ofender nenhuma classe ou pessoa, ao qual de antemão já me desculpo por eventual interpretação que se tenha dado a essas falas. Quem me conhece sabe que minha missão como sacerdote católico é professar a verdade do evangelho e doutrina da Igreja, da forma literal como escrito na Bíblia e no catecismo.

O padre ainda falou sobre o seu compromisso com a sociedade e se colocou à disposição para esclarecer a situação:

Reitero meu compromisso com a sociedade, sem distinção de raça, etnia, cor ou orientação sexual, pois entendo que somos todos iguais aos olhos de Deus, sendo certo que meu papel é proclamar o mandamento da caridade, respeito, misericórdia e tolerância. Me coloco à disposição para uma abertura de diálogo amigável, pois entendo que o melhor caminho é sempre a reconciliação, mediação e conversa entre as partes.

Já a Diocese de Nova Friburgo disse, por meio de seu Bispo Dom Luiz Antonio Lopes Ricci, que lamenta profundamente o ocorrido com o ator Bernardo Dugin, durante a missa no sábado, dia 30 de abril, na Capela do Colégio Nossa Senhora das Dores:

Pedimos perdão às pessoas que se sentiram ofendidas e reafirmamos aquilo que é recorrente nas orientações do bispo para os padres e leigos: misericórdia, respeito, diálogo, tolerância e reconciliação.

O Colégio Nossa Senhora das Dores informou que não aceita nenhum tipo de preconceito.

Também procurada pelo Portal Multiplix, desde a terça-feira, dia 2, a Polícia Civil ainda não deu informações sobre o andamento das investigações.

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