'O Filho do Pescador': ao completar 180 anos, livro do escritor cabo-friense Teixeira e Sousa ganha nova edição
Primeiro romance da literatura brasileira ganha versão especial e comentada pela Editora Sophia
Publicado originalmente em 1843, o romance 'O Filho do Pescador', do escritor cabo-friense Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa, ganhou uma nova edição neste ano. Completando 180 anos, a obra chegou às livrarias em maio, em versão especial e comentada pela Editora Sophia.
Considerado o primeiro romance da literatura brasileira, o conto circulou em rodapés dos antigos folhetins e ganhou relevância, mas foram raras as edições e os relançamentos. Agora, a editora faz o resgate do livro, "abraçando a importância de um novo olhar sobre o escritor", e ressalta:
Ao reerguer este monumento literário, a editora reafirma seu compromisso com a valorização e divulgação da literatura nacional, entendendo a necessidade desta reedição não apenas pelos méritos literários da obra, mas também como uma contribuição indispensável para a educação e formação cultural de futuras gerações.
Segundo o organizador e editor Rodrigo Cabral, o projeto visa não apenas encantar os já admiradores de Teixeira e Sousa, mas também despertar o interesse de novos leitores, ávidos por descobrir os grandes prosadores e poetas que formam a árvore genealógica da literatura brasileira até os dias de hoje.
O livro, originalmente dividido em 20 capítulos, conta com 595 notas, quase todas elaboradas pelo doutor em letras pela UFRJ, Gustavo Rocha, além da apresentação da professora Hebe Cristina da Silva, mestre e doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas, cuja tese de doutorado estabelece relações entre os escritos de Teixeira e Sousa e o contexto da formação do romance brasileiro.
Busto de Teixeira e Sousa localizado no centro de Cabo Frio | Foto: Divulgação
"Uma obra de indiscutível relevância para a literatura brasileira, onde os leitores entrarão em contato com um enredo recheado de peripécias, crimes, redenções, punições, reflexões edificantes, descrições de paisagens e muitas surpresas distribuídas nos 20 capítulos que contam a história de Laura e Augusto, o filho do pescador referido no título", disse Hebe.
Tamanha importância de Teixeira e Sousa para a literatura nacional fica evidenciada na menção feita por Machado de Assis no título de um poema publicado no periódico 'Marmota Fluminense', quando o chamou de "O gênio adormecido". Machado admirava o cabo-friense, de acordo com os editores.
Ao Portal Multiplix, Jaqueline Brum, presidente da Academia de Letras e Artes de Cabo Frio (Alacaf), falou sobre a importância dessa nova edição do livro para a história e o futuro da cidade na Região dos Lagos do Rio:
Relançar esse livro é de grande importância para mantermos as nossas raízes fortalecidas. Sabemos o quanto é difícil fazer cultura no Brasil e, em Cabo Frio, não é diferente. No entanto, olhar Teixeira e Sousa, sua coragem e ousadia, nos desafia enquanto escritores cabo-frienses a honrarmos o seu legado.
Sobre o romance
O livro tem como ponto de partida a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde Augusto encontra uma moça à deriva em um naufrágio. Laura, de alma complexa e beleza raríssima descritas pelo autor, que narra o texto em primeira pessoa, está no centro do enredo.
Além de Augusto, com quem se casa, ela acaba se envolvendo com Florindo, Marcos e Emiliano entre percalços, incêndios e assassinatos. Um suspense com ligeiras reviravoltas a cada novo capítulo.
Para a editora responsável pelo relançamento, a obra transcende o seu valor narrativo. Representa um documento histórico, trazendo as complexidades e os costumes da sociedade brasileira do século 19.
Conheça Teixeira e Sousa
Filho mais velho do português Manoel Gonçalves e de Ana Teixeira de Jesus, brasileira afrodescendente, Antônio Gonçalves Teixeira e Sousa nasceu em Cabo Frio, em 28 de março de 1812.
Aos 10 anos, devido às dificuldades financeiras do pai, que era comerciante, precisou trocar os estudos de latim pela carpintaria. Para aperfeiçoar-se no ofício, mudou-se para a capital, em 1825.
Segundo registros biográficos, em 1834, todos os seus familiares já haviam morrido. Sozinho, Teixeira e Sousa retornou de vez ao Rio em 1840, conseguindo empregar-se na tipografia do jornalista Francisco de Paula Brito.
Em 1849, passou a exercer o cargo de professor público de Instrução Primária, na região do Engenho Velho, o que lhe permitiu oferecer um melhor conforto para a sua família.
Em 1855, obteve a nomeação para escrivão da 1ª Vara do Juízo do Comércio da Corte, cargo que exerceu até o fim da vida.
Além de 'O Filho do Pescador', são obras do autor: 'As Fatalidades de Dois Jovens' (1846), 'Tardes de um Pintor ou As Intrigas de um Jesuíta' (1847), 'Gonzaga ou a Conjuração de Tiradentes' (1848-1851), 'Maria ou a Menina Roubada' (1852-1853), 'A Providência' (1854), 'Cânticos Líricos' (1841 — 1842), 'Os Três Dias de um Noivado' (1844), 'A Independência do Brasil' (1847-1855), 'Cornélia' (1844) e 'O Cavaleiro Teutônico ou a Freira de Marienburg' (1855).
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