“São João! São João! Acende a fogueira do meu coração!”
A tradição de festejar o Dia de São João e os símbolos que se incorporaram à festa que celebra também o padroeiro da cidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio
Enraizadas na cultura brasileira, as festas juninas tiveram que ser canceladas, pelo segundo ano consecutivo, ou migrar para os meios virtuais e as comidas para o delivery, por conta da pandemia do novo coronavírus. No dia 13 é celebrado o Dia de Santo Antônio, no dia 24 é a vez de São João ser homenageado e, por último, São Pedro e São Paulo, que recebem as graças no dia 29 de junho.
Portanto, nesta quinta-feira, 24, celebra-se o Dia de São João. Sem bandeirinhas, sem fogueira e brincadeiras? Mas o que esses itens têm a ver com a festa? Assim como a maior parte da cultura brasileira, as festas juninas são uma junção de várias outras culturas. No caso, a festa de São João mistura tradições europeias, da era medieval, de várias regiões do Brasil e tradições católicas.
São João Batista era primo de terceiro grau de Jesus Cristo, pois sua mãe, Santa Isabel, era parente da Virgem Maria. O padroeiro de Nova Friburgo foi percursor da evangelização de Cristo, pregando no deserto e batizando as pessoas com água no Rio Jordão, promovendo a conversão, antes do Ministério do Messias. O santo foi morto por Herodes na prisão.
Em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio, a Igreja Matriz foi construída em 1861, sendo inaugurada em 1869. Como não existia na cidade nenhuma capela para servir de Matriz, o Governo da Província do Rio de Janeiro comprou um terreno para nele edificá-la. O nome a que foi batizada é em homenagem a Dom João VI, que assinou o decreto de autorização da vinda de suíços católicos para o Brasil e consagrou à paróquia que estava sendo criada de São João Batista de Nova Friburgo.
A Diocese de Nova Friburgo foi criada em 26 de março de 1960 pela bula “Quandoquidem verbis” do Papa João XXIII, desmembrada da Arquidiocese de Niterói e das Dioceses de Campos e Valença. Por Breve Pontifício em 1961, a Diocese recebeu como Padroeira Principal a Virgem Maria sob o título de “Imaculada Conceição”, e como Padroeiro secundário São João Batista. Atualmente, a Igreja possui o título de Catedral.
Origem do Dia de São João
Havia, na segunda quinzena do mês de junho, quando ocorria o solstício de verão na Europa, o culto a deuses da natureza, das plantações e colheitas. Um desses deuses era Adônis, que, segundo o mito grego, foi disputado por Afrodite (deusa do amor) e Perséfone (deusa dos infernos). A disputa foi apaziguada por Zeus, que determinou que Adônis passaria metade do ano com Afrodite, no mundo superior, à luz do Sol, e a outra metade com Perséfone, no mundo inferior, nas trevas.
Essa disputa entre deusas acabou sendo associada aos ciclos naturais da vegetação, que morre no inverno e renasce e vigora na primavera e verão. O culto a Adônis, cujo dia específico era 24 de junho, tinha por objetivo a celebração dessa renovação, da “boa-nova” do renascer da natureza. Essa ideia foi assimilada pelo cristianismo, que substituiu Adônis por São João Batista.
São João Batista, na tradição cristã, anunciou a “boa-nova” da vinda do Cristo, filho de Deus, que “renovaria todas as coisas”. Foi ele também que batizou Cristo no rio Jordão. Da história de São João, a cultura popular europeia retirou vários símbolos, que passaram a se mesclar com os tradicionais ritos da colheita remanescentes do culto a Adônis.
Os símbolos da festa
A quadrilha veio da Europa, junto com a corte portuguesa. A corte, por sua vez se inspirou nas festas francesas. A dança representa a alegria e amor, e antigamente servia para formar casais de namorados, onde todos acabavam se conhecendo.
Já a fogueira relembra a cultura católica, onde ela representa o sinal de luz que Isabel, irmã de Maria, teria acendido uma fogueira para avisar a irmã do nascimento de São João Batista. A tradição manda que depois de acender a fogueira, os presentes devem fazer uma oração à Nossa Senhora.
Acender fogueira é tradição durante as festas de São João | Foto: Banco de Imagem
Ela também tem outras explicações como espantar maus espíritos e gerar proteção. Toda a festa gira em torno dela, seja para aquecer as pessoas devido à baixa temperatura de junho ou para iluminar aqueles ao seu redor.
As bandeirinhas e balões servem para anunciar as festas aos outros povos. Era tradição que as pessoas escrevessem bilhetes para avisar outras pessoas que a festança havia começado. Com o passar do tempo, os símbolos ganharam mais estampas por questões de estética.
Já as comidas são de tradição nordestina, onde a fartura dos quitutes celebra o fim do trabalho braçal. O milho é um dos maiores representantes da festa junina e popularizou graças a colheita da espiga, que cai exatamente nessa época do ano. Além disso, o milho é matéria-prima para várias comidas tradicionais, como a canjica, a pamonha, bolo e suco, que são muito bem vindos para todos se deliciarem.
Por último, mas não menos tradicional, o pau de sebo é uma brincadeira que também nasceu em Portugal. Ela tem como objetivo mostrar, por meio da brincadeira, a bravura e o poder de quem participa. A ideia da brincadeira consiste em tentar subir em um tronco reto e liso banhado de sebo ou graxa, ou qualquer outra substância gordurosa, para alcançar um prêmio que se encontra no topo.
Na cultura popular brasileira, as festas juninas têm lugar especial, pois, além de valorizarem as tradições locais do país, também revelam muitos elementos históricos, religiosos e mitológicos curiosos, que passam despercebidos.
Tais festas seguem o calendário litúrgico da Igreja Católica, que, no processo de assimilação dos antigos cultos pagãos europeus – na transição da Idade Antiga para a Idade Média –, acabou por substituir os rituais dedicados aos deuses médio-orientais, gregos, romanos e nórdicos por festas dedicadas aos santos.