Artistas de Friburgo e da região arrecadam doações para ajudar ONGs do Pantanal
Cerca de 20% do bioma foi destruído com os incêndios das últimas semanas; veja como contribuir
A arte como ferramenta de ajuda. Essa é a proposta das artistas Rayune Marchon e Bárbara Pinto, que estão utilizando o trabalho para arrecadar fundos para as ONGs que atuam na preservação de um dos locais mais importantes do Brasil: o Pantanal.
Os incêndios que atingiram o bioma nos últimos meses deixaram efeitos irreversíveis e um cenário devastador.
Com um efetivo pequeno para enfrentar um problema de proporção tão grande, as organizações têm trabalhado dobrado para conseguir poupar o meio ambiente, salvar milhares de animais e dar apoio à população.
Foi pensando nisso que a tatuadora friburguense Rayune Marchon começou a vender desenhos. Nas ilustrações, a onça-pintada, um dos símbolos da região.
Veio do pedido de ajuda dessas instituições. Sei que sozinha não poderia doar muito e que a estética da onça-pintada encanta muitas pessoas. Talvez elas se interessassem em ajudar também.
As impressões em papel fotográfico são vendidas por R$ 20. Toda a venda será destinada aos grupos como SOS Pantanal, Nex - No Extinction (sem extinção, em português), Onçafari, Acaia Pantanal e Ampara Silvestre.
“Esse valor pode ser pago a mim, via transferência ou no momento da entrega (do desenho). Também existe a opção de pagar diretamente no link que cada ONG tem disponibilizado em seus perfis no Instagram”.
Já a acrobata e pirofagista Bárbara Pinto selecionou um número circense exclusivo. A apresentação será online e ficará em exibição até o dia 22 de outubro.
“Quem quiser e puder, pode contribuir com um ingresso virtual, via transferência bancária, como forma de apoiar o meu trabalho e ajudar o Pantanal". E ela acrescenta:
Metade do valor do ingresso é repassada pra ONG, que está usando esse dinheiro para cuidar dos animais, brigadistas e combater o incêndio.
As arrecadações vão até dia 16 de outubro e o ingresso é de contribuição consciente.
Consciência Ambiental
As duas destacam a importância de fazer a sua parte e explicam os motivos para se engajarem na causa.
“Pra manter meu trabalho, preciso estar saudável e preciso que meus clientes também estejam saudáveis. Isso não será possível se deixarmos nosso ecossistema entrar em colapso. A vida como conhecemos depende da preservação desses territórios, desde a qualidade do nosso ar até as temperaturas dos nossos dias”, diz Rayune.
“A gente sempre acha que política é coisa pra político, que é algo muito longe da gente. E não é tanto assim, ainda dá pra agir, pra fazer o que acredita, ser politicamente ativo. Eu sou apaixonada pelo Brasil, a nossa cultura, as nossas riquezas, a nossa potência. O Pantanal, assim como tudo o que temos aqui, é único, é nosso, é sagrado. Não é ‘lá’ porque não é fora. Influencia em tudo, tá do nosso lado”, finaliza Bárbara.
Do paraíso ao inferno
O Pantanal possui uma grande biodiversidade e, por isso, seu cenário (antes) paradisíaco atraía milhares de turistas anualmente. O ecoturismo era responsável por uma das maiores fontes de renda, auxiliando grande parte da população, que depende do setor.
Com os incêndios, a área queimada corresponde a 20% do bioma. Para ter uma noção do estrago, isso corresponde a 11 vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Só neste ano, foram queimados 10% do território. Um aumento de 223%, comparando o período de janeiro a setembro do ano passado e de 2020.
Ainda de acordo com os dados do Instituto Centro de Vida (ICV), o Parque Estadual Encontro das Águas, considerado o lugar com a maior concentração de onças-pintadas do mundo, teve 85% do seu território destruído.
O santuário das araras-azuis, outro grande símbolo da região, é mais um local que sofre com os impactos. Especialistas acreditam que a espécie pode voltar a lista de ameaçados de extinção.
Choveu, mas isso não é o suficiente
De acordo com o último levantamento do Comitê Multiagências de Coordenação Operacional do Mato Grosso (Ciman-MT), a chuva registrada nos últimos dias diminuiu em 52% os focos de incêndio na região, após quatro meses de estiagem.
Apesar da chuva ajudar no combate ao fogo, as consequências das queimadas para o bioma e para todos que dependem dele estão só começando.
O doutorando em Ecologia e Conservação, da Universidade Federal do Mato Grosso, Bruno Henrique dos Santos Ferreira, conversou com o Portal Multiplix sobre o complexo processo de regeneração do pós-incêndio.
“A vegetação começa a se regenerar gradativamente a partir de sementes e gemas que estavam no banco do solo. Todavia, este processo de restauração dependerá muito da disponibilidade local de fragmentos que tenham sofrido pouco ou nenhum efeito do fogo, funcionando assim como refúgio para estes animais que poderão colonizar áreas queimadas”, explica.
O tempo de recolonização, segundo Bruno, irá variar entre grupos de animais, dependendo da história natural de cada um, da área de vida e recursos que estes necessitam. E com a chegada da chuva, algumas partes ficarão totalmente submersas, enfrentando depois do fogo a inundação.
Dessa forma, ecossistemas aquáticos e a qualidade de recursos hídricos serão impactados. A população humana poderá sentir efeitos negativos por algum tempo, especialmente a atividade e o turismo da pesca.
“Em algumas regiões os efeitos poderão ser mais amenos enquanto em outras, os impactos poderão ser mais duradouros. A questão principal é que estes fenômenos são recorrentes, portanto precisamos de planos para estarmos preparados para eventos futuros”, reforça Bruno.
Porque você deveria se preocupar
Engana-se quem pensa que o que acontece no Pantanal, fica por lá. De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a fumaça das queimadas, mais os incêndios que acontecem também na Amazônia, se estendeu por mais de 3.000 km, atingindo as regiões sudeste e sul.
Queimadas destruíram 20% do território | Foto: Reprodução/Mayke Toscano (Secom-MT)
Mas o que isso significa? O céu pode adquirir cores incomuns e a fumaça potencializar a poluição do ar, agravando problemas respiratórios e doenças, como o câncer. Em meio a uma pandemia, um cenário nem um pouco perto do ideal.
E grande parte do problema é causada por ação humana.
Segundo dados divulgados pelo governo do Mato Grosso, a perícia na região diagnosticou causas acidentais, mas a maioria dos focos foi provocada intencionalmente.
A Polícia Federal investiga quatro fazendeiros, suspeitos de colocar fogo em vegetação nativa para transformá-la em pasto para criação de gado.
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