Crise na Argentina impacta nos setores de turismo, comércio e serviço em Búzios
Média de ocupação hoteleira de argentinos na cidade caiu de 70% para 20%
Com inflação recorde, moeda desvalorizada em relação ao dólar, empobrecimento da população e um governo com baixo índice de popularidade, a crise econômica na Argentina está impactando no número de turistas 'hermanos' em Búzios, na Região dos Lagos do Rio.
No balneário, é comum perceber a presença de visitantes do país vizinho por todos os lados, mas a situação neste ano mudou consideravelmente.
De acordo com números do Conventions & Visitors Bureau em Búzios, 70% dos turistas estrangeiros que visitavam a cidade buziana eram da Argentina. Atualmente, a média de ocupação desse público na cidade é de apenas 20%.
Em junho deste ano, a inflação no país vizinho chegou a 64% no acumulado em um ano. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística e Censos da Argentina (Indec), é a maior alta generalizada de preços em 30 anos.
Com esse cenário, quase 40% dos argentinos estão em situação de pobreza. Outro fator com efeito sobre as viagens internacionais é a taxa cambial. O país enfrenta a maior inflação das últimas três décadas. Nesta segunda-feira, dia 8, R$ 1 equivale a ARS 26,08 (pesos argentinos).
Uma agência de turismo, especializada em Passeio Náutico e City Tours, que atua há 15 anos no balneário, confirmou ao Portal Multiplix que a crise na Argentina está refletindo no número de passageiros.
Os poucos que estão vindo são, em grande parte, de viagens remarcadas por causa da pandemia. Normalmente, o nosso público é 60% argentino, e agora não chega a 5%. Essa semana, por exemplo, não tivemos nenhum passageiro argentino.
A crise econômica tem dificultado a venda de pacotes de viagens e também afeta a movimentação no comércio de Búzios.
Romina Castelli que vive em Rosário, cidade portuária na Argentina, revela que com essa alta da inflação não será possível viajar para o Brasil neste ano.
Eu costumava viajar para o Rio de Janeiro, em média, duas ou três vezes por ano. Tenho amigos que vivem em Búzios, com a desvalorização da nossa moeda, esse ano não devo ir visitá-los.
Conhecida internacionalmente, a Rua das Pedras é o principal ponto turístico de Búzios | Foto: Divulgação/Prefeitura de Búzios
Com menos argentinos para fechar locações, os donos de imobiliárias, precisaram se adaptar.
Paulo Freire, proprietário de uma agência especializada em aluguel por temporada na cidade, conta que é preciso fazer outras ações para driblar esse cenário:
A crise na Argentina impacta diretamente no setor de turismo da região, o setor de aluguel de temporada em Búzios tinha como um de seus pilares esse turista que deixou de vir. Com essa queda na demanda e aumento da quantidade de casas para temporada os valores de diária caíram vertiginosamente. A solução é buscar novos mercados, diminuir preços e realizar uma entrega mais personalizada.
Bárbara Brandan, gerente de restaurante e responsável pelo setor de marketing de uma famosa creperia no balneário, que atendem um número expressivo de argentinos, também afima que o movimento diminuiu bastante.
Desde junho, nós notamos que o número de turistas 'hermanos' em nossos estabelecimentos caiu. Há cerca de um mês e meio, o fluxo era bem maior. O movimento caiu 60%.
Sobre os números de argentinos na cidade, a Secretaria de Turismo de Búzios informou, por meio de nota, que está em fase de análise para contratar uma empresa que realize o monitoramento da atividade e os dados referentes aos visitantes. E acrescenta:
"Devido à grave crise econômica, houve uma queda significante do mercado argentino na cidade, mas nota-se a presença do mercado chileno devido a um planejamento realizado pela Decolar Viagens."
A secretaria disse também que vai participar dos eventos ABAV (Pernambuco), FIT (Buenos Aires) e Festuris (Gramado), marcando o seu retorno nos eventos corporativos para o debate e visibilidade do destino entre os principais operadores de turismo, companhias aéreas, agências de turismo, OTA's e diversas entidades do setor.
"Buscar novos mercados nacionais e internacionais, além do latino-americano para promover a atividade turística retomando os indicativos pré-pandemia", finaliza a nota.
Já o diretor da Associação de Hotéis de Búzios (AHB), Thomas Weber, disse que o mercado argentino e outros emissores internacionais ainda não retomaram os números de 2019:
Em 2022 sentimos a retomada, mas acredito que as vantagens cambiais levam mais brasileiros para a Argentina nesse momento. Seguiremos fazendo ações de divulgação no mercado e certamente voltaremos aos números anteriores à pandemia em breve.
Mudanças no governo para reduzir o déficit fiscal e a inflação
Em meio a uma profunda crise na Argentina, Sergio Massa assumiu o cargo de ministro da Economia na última semana. Durante o discurso de posse, o novo ministro anunciou um plano para reduzir o déficit fiscal e a inflação de forma progressiva até 2024.
Além disso, Massa enfrenta o desafio de aumentar as reservas internacionais disponíveis, que os analistas dizem estar em níveis críticos.
A Argentina registra um das maiores índices de inflação do mundo, com 36,2% no primeiro semestre de 2022. A pobreza chega a 37% de seus 47 milhões de habitantes.
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