Admirável feriado novo
“A solução é alugar o Brasil!” (Raul Seixas)
Pense num terráqueo com predileção por finais de semana, folgas, e feriados. Esse aí é o tupiniquim. Se cair numa terça ou quinta-feira, então, pode pesquisar o preço da carne e da cerveja, porque sim, vai ter churrasco e pulinho em Rio das Ostras. Verdade seja dita: o brasileiro, culturalmente, sente-se punido por trabalhar. Daí passa seus dias, nutrido de planos e sonhos, esperando pela sexta ou um prêmio da loteria. Quem me dera!
Parando pra pensar, folgadíssimo leitor, a gente está muito bem servido de períodos de descanso. Talvez não exista, nesse mundão de meu Deus, país com mais feriados do que o nosso. Possuímos, com um orgulho que mal cabe no peito, dez feriados nacionais, isso sem contar os estaduais e municipais, além dos domingos – sim, o domingo, para efeitos legais, é considerado feriado. Datas comemorativas, aí nem se fala, cara pálida, tem pra todos os gostos: vai desde o Dia da Tia Solteirona até o Dia dos Discos Voadores.
Como é que é?
Meu Deus, a quem interessa o Dia dos Discos Voadores, cara pálida? Temos entre nós algum alienígena? Deve ser isso, só pode. O despropósito da data não se restringe a datas comemorativas esdrúxulas criadas por algum parlamentar maluco de cidade do interior a fim de mostrar trabalho. Pensemos, não por acaso, no nosso 15 de novembro, que comemoramos desde 1949. Fica patente o cunho ideológico e o viés político na instituição de uma data, por um Brasil ufanista que precisava acreditar em si mesmo, em seu passado glorioso e em seu futuro promissor.
Que vantagem temos, entretanto? Somos gado e massa de manobra desde que Cabral parou aqui pra comer um acarajé no caminho para as Índias. Mandam que a gente vá para a direita e a gente vai, mandam que a gente venha para a esquerda e a gente vem... Isso, meus senhores, acontece todos os dias, tão sutilmente, que a maioria nem percebe. O brasileiro paga caro e se alimenta mal, dorme nas ruas, carece de saúde e educação de qualidade, há mais de quinhentos anos, sendo o Brasil uma colônia, monarquia, república ou qualquer outra coisa. Não importa.
Em verdade, não tem a ver com o sistema de governo. Nada a ver. Montesquieu e companhia limitada que me perdoem. Tem a ver com o interesse dos governantes e daqueles que são governados, e disso, infelizmente, não estamos sortidos. Eleger representantes é frio, é raso… apenas arranha a superfície da democracia. Precisamos de mais. Seria um bom começo (e já é bem vergonhoso começar alguma coisa a essa altura do campeonato), assumir uma postura mais crítica e reflexiva, tomar parte, de fato, das decisões políticas, incomodar-se com o descaso e com a indiferença... Claro, talvez isso nos pareça muito penoso, e a gente pode simplesmente ignorar tudo, seguir em frente. Liberum arbitrium. Podemos, inclusive, alugar o Brasil, como sugeriu Raulzito. Imagina... se nada der certo, em desvantagem a gente não fica: nós não vamos pagar nada – e, de quebra, ainda teremos um feriado novo.
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