Hoje é dia de Clarice
Hoje é dia de Clarice. Todos os dias têm sido de Clarice para mim: estou escrevendo uma dissertação de mestrado sobre G.H. e Água viva.
Pesquisar é colocar a mente em forma de pergunta. O corpo inteiro em dúvida, aberto e tremulante de incertezas. E pouco a pouco se sabe alguma coisa. Vem a confiança de um passo. Então outro livro se abre e o que se sabia já não é certo: fica-se em dúvida outra vez. Pensar é questionar qualquer certeza. É desapegar-se das ideias. Se depois de tudo isso uma ideia permanece – um pensamento se formou. Mas Clarice fica atrás do que fica atrás do pensamento (por detrás e à procura):
“a realidade, antes de minha linguagem, existe como um pensamento que não se pensa, mas por fatalidade fui e sou impelida a precisar saber o que o pensamento pensa”.(G.H.)
“Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais” (Água viva)
Clarice vai me guiando enquanto escrevo a dissertação-pensamento. Quando ler filósofos me angustia, recorro à ela, que é filósofa com o poder de ser simples e direta.
E então eu sei.
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