Nova Friburgo se destaca como uma das melhores cidades do Brasil para observar o céu
Município serrano tem regiões distintas e com menor poluição luminosa; Veja os melhores locais para observação
Você tem o costume de olhar para o céu? Se a sua resposta for negativa, provavelmente você também não sabe que Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, se destaca como uma das melhores cidades do Brasil para observar e fotografar o céu. E isso é possível porque o município tem regiões distintas, de acordo com a sua densidade demográfica, o que implica diretamente na qualidade dessas observações.
Entrevistamos a astrônoma Ana Carolina Posses, formada pelo Observatório do Valongo (UFRJ) e doutoranda na Universidad Diego Portales, do Chile, além do estudante de física da Universidade Federal Fluminense (UFF) e professor do Planetário de Nova Friburgo, Pedro Cordoeira, para saber mais sobre a atmosfera e quais locais da cidade podemos ver mais estrelas.
A astrônoma explica que as estrelas são bolas de gás incandescentes que produzem sua luz por reações nucleares em seu núcleo e elas têm diferentes tamanhos, massas, metalicidades e idades.
“Em primeiro lugar, entender sobre estrelas é entender sobre os processos físicos que regem seu funcionamento. Hoje, nós somos capazes de entender bem como é o processo de formação, evolução e morte dos diferentes tipos de estrelas. Assim, nós podemos aprender mais sobre de onde nós viemos, em que estágio da vida do sol estamos e qual vai ser o nosso destino. O sol vai morrer daqui a cerca de 5 bilhões de anos e se ainda existirmos, nós precisaremos achar um novo lar”, destacou Ana.
A astrônoma explica que os especialistas observam as estrelas também para saber se irá acontecer com elas a mesma coisa que com o sol. Se apenas ele é capaz de fornecer as melhores condições de 'abrir vida' e onde estão as estrelas parecidas com o sol. Mas, por que Nova Friburgo se destaca como uma das melhores cidades do Brasil para se observar o céu?
“Friburgo, particularmente, tem regiões com muitas pessoas. E isso implica em ampliação da rede de iluminação pública. Olaria, Conselheiro e Centro são bairros com tantas pessoas e tanta luz apontando em várias direções, principalmente para cima, que aumenta a poluição luminosa. Em distritos mais afastados, com destaque para Mury, Conquista, Salinas, Lumiar, São Pedro da Serra e região, como há um número muito menor de pessoas, a iluminação é menor em comparação aos bairros que citamos. Com isso, a poluição luminosa é menor, facilitando as observações e crescendo o número de estrelas visíveis”, explicou Pedro.
Há cerca de 5 mil estrelas visíveis a olho nu. Mesmo não conseguindo observar todas ao mesmo tempo, muitas aparecem durante o dia e as condições não são tão boas, nós conseguimos ver 2,5 mil estrelas, aproximadamente, a noite no céu. E nos centros urbanos esse número pode ser ainda mais reduzido, devido ao excesso de luz e a poluição. Temos mais um exemplo do motivo para que Friburgo esteja na lista das observações.
“Nas grandes cidades, infelizmente a iluminação pública gera poluição luminosa porque parte dessa luz não é corretamente projetada para baixo. Se então somar com a luz das residências e prédios, o problema aumenta porque toda essa luz é direcionada aos céus. Infelizmente, a luz das estrelas mais fracas é completamente ofuscada por todo esse clarão. Sou do interior do Espírito Santo, onde o céu era relativamente bom e foi esse céu que me levou a fazer o curso de Astronomia. Mas, chegando no Rio, eu perdi completamente o costume de olhar para o céu. Só lembrava de como era bom olhar, quando voltava para minha cidade natal. Acho uma pena que o pessoal das grandes cidades não tenha esse privilégio”, frisou a astrônoma.
Pedro ainda destaca que a astronomia não é algo que engaje muitas pessoas rotineiramente, principalmente na região e, por isso, não movimenta pautas políticas para incentivar a atividade ou apoiar clubes de astronomia e planetários.
“Friburgo é uma das melhores cidades do Brasil para se observar o céu por conta desses distritos mais afastados e é um turismo pouquíssimo explorado na nossa região. Quando aparece alguma coisa vindo de poder público, é muito pouco (melhor que nada) e demorou muito para conseguir”, finalizou o professor do Planetário friburguense.
E aproveitando que o município oferece diversas regiões para observar o céu, que tal parar para admirar ainda mais as estrelas e tudo o que a galáxia tem para oferecer?
“Convido, pra quem tem esse privilégio, a olhar para os céus noturnos. E para quem não tem essa oportunidade, para se dirigir a Região Serrana do Rio, quando essa pandemia acabar! Olhar para os céus é um tremendo de um exercício de autoconhecimento. Essa ação nos proporciona entrar em perspectiva sobre o Universo e nos permite pensar bastante sobre nossa vida. O que estamos contemplando no fim das contas é um reflexo do que somos hoje. Olhe para os céus”, frisou Ana.