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Especialista Daniel Becker explica impactos do 'brain rot', eleito termo do ano pelo Dicionário Oxford

Consumismo, preconceito e falta de atenção estão entre os danos causados pelo consumo excessivo de conteúdos triviais

Por Eliandra Bussinger
16/12/24 - 08:56
Especialista Daniel Becker explica impactos do 'brain rot', eleito termo do ano pelo Dicionário Oxford Especialista afirma que conteúdos fúteis e alienantes moldam o indivíduo e condicionam o cérebro à distração | Foto: Reprodução/Fabio Rodrigues-Pozzebom (Agência Brasil)

O consumo excessivo de conteúdos de baixa qualidade e superficiais na internet levou o Dicionário Oxford a eleger o termo "brain rot" (podridão cerebral, em tradução literal para o português) como a palavra de 2024.

A escolha foi feita após votação com a participação de 37 mil pessoas, discussão pública e análise de dados linguísticos. De acordo com a universidade, o verbete ganhou força no último ano nas redes sociais, principalmente no Tiktok, e seu uso aumentou 230% entre 2023 e 2024.

O termo é descrito pelo dicionário como uma:

Suposta deterioração mental ou intelectual de uma pessoa, especialmente vista como resultado do consumo excessivo de material (atualmente, o conteúdo online) considerado trivial ou não reflexivo. Além disso: algo caracterizado como passível de levar a tal deterioração.

Ao Portal Multiplix, o pediatra, sanitarista e ativista pela infância e saúde coletiva Daniel Becker explica que o excesso de redes sociais e vídeos curtos cria duas dimensões de dano, principalmente para a criança e o adolescente.

A primeira está relacionada ao que se perde em frente às telas, como o contato com a natureza, o movimento e a luz do dia.

No caso da faixa pediátrica, para o especialista, os prejuízos estão justamente nos pontos essenciais para o desenvolvimento humano:

Perde-se o hábito de brincar, que é a semente da felicidade. Sem brincadeira não tem infância, criatividade e não vai haver invenção e curiosidade. Se perde a capacidade de empatia, autoconhecimento, resolução de problemas e conflitos, comunicação e colaboração.

A segunda dimensão de dano é o que se adquire negativamente com o consumo de conteúdos fúteis e alienantes que, para Daniel, vai moldar o indivíduo e "treinar o cérebro para se tornar distraído".

Outro ponto ressaltado pelo pediatra é o acesso a ideias que promovem o ódio, a radicalização da política, a violência, a misoginia e comparações impossíveis. Ele também alerta sobre a maior exposição a golpes, crimes, pedofilia e predadores na internet.

A capacidade de reflexão e a atenção ficam fragmentadas. O cérebro adquire o hábito de ficar rodando a cada 15 segundos como esse material não linear, sem histórias e conflitos, afirma o médico.

Como ter uma relação saudável com as redes sociais

Embora o vício em redes sociais atinja todas as idades, o pediatra explica que o uso de smartphones na infância e adolescência é ainda mais lesivo. Por esse motivo, na visão de Daniel, é preciso que o acesso ao dispositivo, assim como o uso de redes sociais, seja adiado.

Os pais e responsáveis precisam supervisionar e restringir o uso, se não estão cometendo um crime de abandono. É uma atividade muito lesiva para a criança se ela fica muitas horas exposta a esses conteúdos inadequados. Uma vez que deram o celular, os pais terão muito trabalho. Por isso, é melhor evitar, enfatiza.

Para cultivar uma mente saudável, tanto em crianças quanto em adultos, o especialista ressalta a necessidade de equilibrar a presença digital e incentivar o retorno ao mundo real.

O caminho, segundo o médico, é restringir o uso das telas; evitar o hábito de mexer no celular antes de dormir; adotar rituais de leitura; e realizar atividades que promovam a profundidade, desejo de conhecimento e a reflexão.

Temos que reduzir o tempo no celular e focar na convivência com amigos, praticar esportes, leitura e estimular uma vida na natureza e atividades culturais. É isso que fortalece o cérebro no sentido de florescimento, e não de apodrecimento, afirma.

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