Varíola dos macacos: Brasil já tem mais de 1.300 casos e vai usar antiviral; veja alerta para cuidados
Entenda o que é e como se proteger da doença que representa emergência de saúde pública
Depois que as regiões Serrana e dos Lagos registraram os primeiros casos de varíola dos macacos (Monkeypox) as atenções se voltaram para a nova doença e as dúvidas que passaram a preocupar os moradores do interior do Rio: “Como a doença é transmitida? O que fazer para evitar a doença? Ela é fatal?”
Nesta segunda-feira, 1º, o ministro da Saúde Marcelo Queiroga informou que o Brasil receberá um antiviral contra a varíola dos macacos. O anúncio foi feito pelo Twitter e o medicamento Tecovirimat será adquirido por intermédio da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).
Segundo dados do Ministério da Saúde, até o último fim de semana, 1.342 casos de varíola dos macacos foram registrados no país. Na sexta, 29, a pasta confirmou a primeira morte pela doença no Brasil.
De acordo com a Agência Brasil, o Tecovirimat tem sido oferecido como opção de uso compassivo (autorização de uso de medicamento novo por agência reguladora, ainda sem registro definitivo) nos Estados Unidos. Ainda não há dados que demonstrem a eficácia do antiviral para o tratamento da varíola dos macacos.
Planos de contingência e protocolos estão sendo adotados em todo o país. O Ministério da Saúde realizou a primeira reunião do Centro de Operação de Emergências (COE) para elaboração do Plano de Contingência contra o surto da varíola dos macacos no Brasil na sexta-feira.
O COE funcionará ininterruptamente, de segunda a sexta-feira presencialmente e nos fins de semana de forma virtual. Se houver necessidade, as reuniões poderão ser presenciais. O objetivo é promover um resposta coordenada por meio da articulação e integração dos envolvidos com o tema.
O Centro é uma estrutura organizacional que permite a análise de dados e informações para a tomada de decisão dos gestores e técnicos, para a definição de estratégias e ações adequadas para o enfrentamento de emergências em saúde pública.
O atual surto da varíola dos macacos representa emergência de saúde pública de importância internacional, segundo o secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros.
Precisamos aumentar o nível de alerta e de vigilância em nosso País. Para isso, abrimos o Centro de Operação de Emergências. Vamos expandir o número de laboratórios de testagem no Brasil, criar protocolos clínicos, protocolos de diretrizes, protocolo de manuseio dos pacientes e protocolo de estratégias de comunicação para a população brasileira.
Medidas em Friburgo
Em Nova Friburgo, a Secretaria Municipal de Saúde já definiu e adotou uma nota técnica, com a chegada da varíola dos macacos na região. A Subsecretária de Vigilância Sanitária, Fabíola Penna, reforça a necessidade dos cuidados que as pessoas devem ter para proteção contra a varíola dos macacos, segundo ela, os mesmos que aplicaram contra a Covid-19.
São as mesmas medidas de higienização recomendadas contra a doença. Ao aparecerem os sintomas, o cidadão deve procurar uma unidade de saúde, conforme orienta a nota técnica.
Ela afirma também que o fato de Teresópolis, uma cidade vizinha, ter um caso confirmado da doença é motivo de atenção. Fabíola Penna informou que o alerta chegou quando a Organização Mundial da Saúde decretou emergência em saúde pública de interesse internacional.
Devemos estar mais atentos porque o vírus está se aproximando.
Infectologista da Fiocruz explica a necessidade da ficar atento aos sintomas | Foto: Reprodução/Fiocruz
Na Região dos Lagos do Rio, a cidade de Armação dos Búzios, registrou o primeiro caso de varíola dos macacos também no mês de julho.
Fiocruz
A médica infectologista do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Marília Santini, esclareceu recentemente algumas dúvidas sobre a doença e destacou que alguns aspectos do surto da varíola dos macacos ainda precisam ser melhor compreendidos pela comunidade científica.
Ela explica a necessidade da atenção aos sintomas. Os primeiros são inespecíficos, duram poucos dias – de um a três dias – e são comuns a qualquer outra virose, como febre, dor de cabeça, cansaço, um mal-estar geral.
Logo em seguida, aparecem lesões na pele. Podem ser poucas lesões, uma ou duas, ou podem ser muitas – mais de 60, por exemplo. Essas lesões podem surgir em qualquer local do corpo, na pele ou em mucosas: perto do ânus, dentro da boca, perto da uretra - cada pessoa manifesta de uma forma.
Marília Santini explicou que essas lesões surgem como pequenas manchinhas vermelhas, e depois crescem bolhas cheias de secreção. Em seguida, essas bolhas se rompem, formam uma crosta, uma casquinha e, depois, se curam. Esse processo – entre aparecer a primeira manchinha vermelha, sumir tudo e ficar sem lesões – leva de duas a quatro semanas.
Varíola dos macacos: o que é
A Monkeypox é uma doença viral e sua transmissão para humanos pode ocorrer através do contato com um animal ou humano infectado. O contágio também acontece através de material corporal humano contendo o vírus.
A transmissão ocorre através de grandes gotículas respiratórias, mas é necessário um contato próximo e prolongado. O vírus também pode infectar as pessoas através de fluidos corporais, contato com a lesão ou contato indireto (objetos e superfícies) com o material da lesão.
A erupção geralmente se desenvolve pelo rosto e depois se espalha para outras partes do corpo.
Os casos recentemente detectados apresentaram uma preponderância de lesões na área genital. A erupção cutânea passa por diferentes estágios - como mácula, pápula, vesícula, pústula - e pode se parecer com varicela ou sífilis, antes de finalmente formar uma crosta, com posterior cicatrização.
Quando a crosta desaparece, a pessoa deixa de infectar outras pessoas. A diferença na aparência com a varicela ou com a sífilis (lesões em diversos estágios) é a evolução uniforme das lesões.
O período de incubação é tipicamente de seis a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias. A médica infectologista da Fiocruz explicou melhor sobre essa transmissão:
O que a gente sabe da história da Monkeypox na África é que é necessário um contato íntimo e prolongado com a pessoa que está doente e com as lesões: morar na mesma casa, dormir na mesma cama, manter relações sexuais, cuidar de uma criança, cuidar de um idoso.
O períodos de infecção
O período de infecção (entre os dias zero e cinco), caracterizado por febre, dor de cabeça intensa, linfadenopatia (linfonodos inchados), dor lombar, mialgia (dor muscular) e astenia severa.
O período de erupção cutânea (entre um e três dias após o início da febre), quando aparecem as diferentes fases da erupção cutânea, geralmente afeta primeiro o rosto e depois se espalha para o resto do corpo.
OMS declarou a varíola dos macacos como emergência de saúde global | Foto: Banco de Imagem
As áreas mais afetadas são a face (em 95% dos casos) e as palmas das mãos e plantas dos pés (em 75% dos casos). A evolução da erupção maculopapular (lesões de base plana) a vesículas (bolhas cheias de líquido), pústulas e crostas ocorrem em cerca de dez dias. A remoção completa das crostas pode levar até três semanas.
A Fiocruz alerta que é fundamental uma investigação clínica e laboratorial, no intuito de descartar as doenças que se enquadram como diagnóstico diferencial. O exame, como explicou Marília Santini, é bem simples. Não é um exame de sangue, nem é uma sorologia. É uma coleta com cotonete, como aquele swab que é feito na garganta ou no nariz, no caso da Covid-19 – só que feita na lesão da pele.
Uma pessoa que acredite estar com sintomas deve procurar um serviço de saúde para fazer o exame. A amostra vai para um laboratório de referência e o resultado é encaminhado para a unidade que solicitou o exame em um prazo de dois ou três dias.
Vigilância Epidemiológica
O tratamento da varíola dos macacos é baseado em medidas de suporte com o objetivo de aliviar sintomas, prevenir e tratar complicações e prevenir sequelas. Para prevenção de casos recomenda-se para profissionais da saúde (incluindo profissionais que atuam em laboratórios de análise clínica e médicos veterinário) o uso de equipamentos de proteção individual como máscaras, óculos, luvas e avental, além da higienização das mãos regularmente.
A população em geral pode se prevenir também fazendo o uso de máscara e higienizar as mãos.
Em caso suspeito da doença, é preciso realizar o isolamento imediato do indivíduo, o rastreamento de contatos e a vigilância dessas pessoas. O isolamento do indivíduo só deverá ser encerrado ao desaparecimento completo das lesões.
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