"Justiça nega o mínimo de dignidade à minha mãe", diz filha de uma das vítimas, após negação para novo julgamento de Marotti
Luiza Mousinho conversou nesta quinta-feira, 1º, com o Portal Multiplix sobre o pedido de anulação da sentença ter sido rejeitado nesta semana
Na última terça-feira, dia 30, a Justiça do Estado do Rio de Janeiro não aceitou o pedido de anulação do julgamento que sentenciou Rodrigo Marotti pelo crime de incêndio com resultado em morte. Parentes das vítimas ficaram indignados com a decisão. Uma instituição em defesa da mulher também se manifestou.
Rodrigo foi condenado a 19 anos e quatro meses de prisão pelo crime que aconteceu em 2019, por atear fogo na casa onde estavam Alessandra Vaz dos Santos, de 47 anos, ex-companheira dele e a amiga dela, Daniela Mousinho, também de 47 anos, em Nova Friburgo, Região Serrana do Rio.
Antes da audiência desta semana, entidades da sociedade civil, amigos e familiares das vítimas fizeram um abaixo-assinado online para tentar sensibilizar a Justiça e mostrar que Rodrigo não deveria ser inocentado da acusação de feminicídio.
Agora, segundo a advogada Aline Freitas, que representa a família de Alessandra Vaz, ainda cabe recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. Ela informou ainda que a pena de Rodrigo foi reduzida em um ano.
A filha de Daniela, Luiza Mousinho, conversou com a reportagem do Portal Multiplix, nesta quinta-feira, 1º, e desabafou sobre essa decisão da Justiça:
Como filha da vítima, é dilacerante ver que a Justiça nega o mínimo de dignidade à minha mãe, até mesmo depois de assassinada. Sinto que se conseguisse chorar tudo o que está me afogando por dentro, inundaria o mundo. Como mulher, é revoltante encarar a faceta do sistema judicial brasileiro, que ainda nos coloca como seres inferiores e passíveis de descarte. É asqueroso que nossos líderes de Justiça tenham ressoado de forma unânime para decidir que Rodrigo Marotti permaneça sentenciado aos crimes de incêndio com resultado em morte e roubo durante o repouso noturno.
Luiza ainda comentou sobre a decisão do júri popular, no julgamento que aconteceu em fevereiro de 2022:
Vai de encontro com o que temos previsto em lei, quando falamos sobre homicídio doloso, quando intenciona-se ou assume-se o risco de matar alguém. A estrutura da nossa sociedade permite que esse tipo de votação suceda, e não podemos deixar que isso permaneça. Basta de fogueiras, basta de forças, queremos as nossas mulheres vivas. Queremos viver.
A diretora da organização Tecle Mulher, Laura Mury, em Nova Friburgo, também falou sobre o que a decisão da Justiça mostra para a sociedade:
As vidas de todas nós, mulheres da Região Serrana do RJ, independentemente de classe social, idade, cor, escolaridade ou credo religioso, estão em grave risco de sofrerem feminicídio, diante da visível impunidade aos assassinos. Muitos são os casos de conhecimento nacional, como o do goleiro Bruno e tantos outros que, mesmo sendo condenados, em poucos anos de prisão, conseguem a liberdade.
Laura lembrou que esse crime chocou todo o país:
O caso de Alessandra e Daniela esteve em pauta, não só por serem mulheres queridas e conhecidas na sociedade, mas pela crueldade e sofrimento imposto pelo algoz feminicida, Rodrigo Marotti. Igualmente, como todos os movimentos sociais da região e das mais de duzentas organizações sociais de todo o país que assinaram o Manifesto ‘Foi feminicídio Sim!’.
A diretora do Tecle Mulher reforçou que, apenas com o apoio de toda a sociedade, vai ser possível acabar com esses tipos de casos:
O Tecle Mulher ainda acredita que existam caminhos para que as 'Vidas das Mulheres' sejam respeitadas e valorizadas, através de uma educação voltada ao surgimento de uma nova sociedade, sem machismo, misoginia, racismo e homofobia. ‘Sem as mulheres, os Direitos não são Humanos!’
Relembre o caso
Segundo as investigações, o crime ocorreu na noite do dia 7 de outubro de 2019, no condomínio Parque dos Alpes, na RJ-142, conhecida como estrada Serramar, no distrito de Mury, em Friburgo.
Alessandra e Daniela morreram dias após ficarem queimadas, devido a um incêndio na casa, provocado por Rodrigo Marotti, logo após uma discussão.
Segundo a polícia, após fugir do local do crime, com o carro de Alessandra, Rodrigo bateu com o veículo em Lumiar, e se escondeu. No dia seguinte, Rodrigo se entregou no Posto de Policiamento Comunitário (PPC) do distrito, onde foi detido pelos policiais militares.
No inquérito, ele disse que tinha uma sociedade com a ex-namorada Alessandra, mas que, após o fim do namoro, a vítima não estaria cumprindo sua parte no acordo e que, por isso, "perdeu a cabeça".
No ano passado, Marotti foi julgado em Nova Friburgo e o júri popular o absolveu da acusação de homicídio qualificado, por duplo feminicídio contra as vítimas.
O réu foi condenado pela juíza Simone Dalila Nacif Lopes a uma pena de 19 anos e 4 meses de prisão pelo crime de incêndio com resultado em morte.
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