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Secretaria de Estado de Saúde encerra investigação epidemiológica e classifica morte de criança em Friburgo como "quadro de meningococcemia"

O Portal Multiplix conversou com a mãe da menina: "Foi negligência. Estou aqui para lutar por justiça"

Por Alice Wandrofski
24/07/24 - 10:25
Secretaria de Estado de Saúde encerra investigação epidemiológica e classifica morte de criança em Friburgo como "quadro de meningococcemia" Aurora Valentina de Freitas Silva tinha um ano e dez meses | Foto: Arquivo Pessoal (Raquel Kezia de Freitas)

A morte da pequena Aurora Valentina de Freitas Silva, de um ano e dez meses, em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, tem gerado comoção na cidade desde a última semana. A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES-RJ) considerou o caso, de forma definitiva, como "um quadro de meningococemia".

A certidão de óbito que a mãe da criança, Raquel Kezia de Freitas, tem em mãos aponta meningite meningocócica como uma das causas.

Na terça-feira, 16, a Prefeitura de Nova Friburgo havia anunciado que investigava a morte de uma criança por suspeita de meningite.

Ao Portal Multiplix, a mãe de Aurora deu detalhes sobre o caso. Raquel disse que procurou atendimento para sua filha no Hospital Municipal Raul Sertã na tarde de sábado, 14:

Chegamos à triagem e a moça nos perguntou se ela tinha caído, batido a cabeça ou algo do tipo. Eu falei que não, ela não tinha caído, que não tinha acontecido nada disso. Ela só estava com muita dor, eu não sabia se era na barriga, ouvido. Aí perguntou se ela estava com febre, e eu disse que não. Então, eles falaram que não era de risco e era para esperar chamar.

A mãe narra ainda que uma outra funcionária do hospital tentou ajudar e chamou o médico. No início do atendimento, ele pediu que Raquel esperasse mais uma vez.

Durante a consulta, segundo Raquel, o médico informou que a criança "estava com uma otite muito forte e que iria passar um remédio para pingar, dois xaropes" e um outro remédio para secreção.

No relato, a mãe, por já ter uma filha mais velha que passou por um quadro semelhante a esses sintomas, diz que questionou o médico "por que ele não tinha passado o antibiótico?":

Ele falou que era médico, não eu. Então ele sabia mais do que eu.

A mãe diz que seguiu a medicação passada na consulta, mas que a filha não apresentou melhora. Já no domingo, 14, Raquel relata que ela amanheceu "com mais dor ainda e que estava saindo uma secreção do ouvido dela".

Por isso, quando o pai chegou do trabalho, eles levaram a criança para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Conselheiro Paulinho, onde outro médico pediu exames, além de solicitar que a criança tomasse remédio na veia, segundo a mãe.

Antes de iniciar a medicação, Raquel conta que alguns profissionais a alertaram sobre umas "bolinhas no corpo" de Aurora. Ainda na UPA, a criança realizou um exame de sangue e um raio-x. Após esses procedimentos, a mãe conta que a menina passou por outro atendimento médico que constatou "uma 'alteraçãozinha' no exame dela [Aurora]. No raio-x também deu uma 'alteraçãozinha no pulmãozinho' dela e ele disse que iria passar o antibiótico".

De acordo com Raquel, por ter deixado a unidade de saúde por volta das 3h, ela não conseguiu encontrar o antibiótico nas farmácias.

Já na manhã de segunda-feira, 15, ela notou que a filha "estava inchada e roxa" e voltou ao Hospital Municipal Raul Sertã:

A doutora que estava de plantão pegou a minha filha no colo e disse: 'Corre, corre, corre, corre com ela que isso pode ser meningite'. (...) A minha filha entrou por volta de 10h25, levaram para a pediatria (...), botaram no oxigênio. Não conseguiram achar a veia da minha filha, furaram mais de 20 vezes. Foram entubar, mas minha filha não aguentou.

Certidão de óbito aponta "meningite meningocócica" como uma das causas do óbito Certidão de óbito aponta "meningite meningocócica" como uma das causas do óbito | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

A mãe conta que recebeu a notícia da morte da filha após as 17h, sendo que a certidão de óbito consta o horário de 15h55.

Em um desabafo à reportagem, Raquel Kezia pede justiça:

É muito doído. Se o médico, no sábado, tivesse deixado ela lá internada ou em observação, com antibiótico na veia, a minha filha estaria viva, porém internada. (...) Ele sequer olhou minha filha no sábado. Foi negligência dele. Estou aqui para lutar por justiça.

Em nota ao Portal Multiplix na segunda-feira, 22, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio informou que um caso de morte por meningite em Nova Friburgo, em 2024:

A Secretaria de Estado de Saúde informa que houve um caso de morte por meningite confirmado em Nova Friburgo em 2024. A confirmação foi feita por exames clínicos, após um primeiro exame em laboratório não ter identificado a presença da bactéria Neisseria meningitidis no corpo da vítima, uma criança de um ano. A SES-RJ esclarece que, até o momento, este foi o único caso de morte pela doença confirmado na cidade neste ano.

Por meio de nota enviada à reportagem nessa terça-feira, 23, a Prefeitura de Nova Friburgo informou que o caso está em revisão:

O caso foi tratado como suspeito, pois a investigação oficial, que compete ao Laboratório Central de Análises Clínicas (Lacen), está em revisão.

Além disso, a "Secretaria Municipal de Saúde esclarece que todas as medidas estabelecidas em protocolos do Ministério da Saúde para prevenção foram adotadas imediatamente, com a profilaxia em quem manteve contato direto com a criança (familiares e escola), que foi conduzida por uma médica pediatra atendendo e prescrevendo conforme o Guia de Vigilância em Saúde e orientação do Setor de Meningites da Secretaria Estadual de Saúde".

O governo municipal também afirma que "o profissional médico que fez o primeiro atendimento à criança no Hospital Raul Sertã foi afastado na semana passada".

Na manhã desta quarta-feira, 24, a SES-RJ reafirmou, em nota ao Portal Multiplix, que "o caso foi classificado, em definitivo, como meningococcemia":

Secretaria de Estado de Saúde do Rio confirma que caso foi classificado como "um quadro de meningococcemia"Secretaria de Estado de Saúde do Rio confirma que caso foi classificado como "um quadro de meningococcemia" | Foto: Reprodução/Portal Multiplix

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) esclarece que não há necessidade de revisão do caso em questão. Desde o dia da notificação enviada pela Secretaria Municipal de Saúde de Nova Friburgo para a SES-RJ, o caso foi considerado um quadro de meningococcemia, pelos sintomas descritos, incluindo o surgimento na pele de manchas conhecidas como petéquias. A SES-RJ reitera que a investigação epidemiológica está encerrada e o caso foi classificado, em definitivo, como meningococcemia.

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