Doze anos após a tragédia climática, Friburgo é considerada a 2ª cidade do país com mais áreas de risco
Teresópolis instituiu o dia 12 de janeiro como a data ‘In memoriam’ às vítimas da cidade
Um mapeamento que vem sendo feito pelo Serviço Geológico do Brasil desde 2011, traz um dado assustador para quem vive em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio.
O município é o segundo do país com maior número de áreas de risco, um total de 254, ficando atrás apenas de Ouro Preto, em Minas Gerais, com 313, segundo o Serviço Geológico Brasileiro.
Das 5.570 cidades brasileiras, atualmente 1.621 são mapeadas pelo órgão.
Deste número, 1.421 apresentaram regiões ameaçadas e nelas mais de 13.248 áreas foram consideradas de risco geológico.
Isso significa que elas estão sujeitas a deslizamentos, inundações, enxurradas e erosões. Desastres que podem afetar mais de 3,9 milhões de pessoas.
A informação chega justamente no mês em que se completa 12 anos daquela que é considerada a maior tragédia climática da história do país.
A tragédia de 2011
Na tarde do dia 11 de janeiro de 2011, um prédio - que já havia sido interditado pela Defesa Civil - desmoronou na rua São Roque, em Olaria e deixou dois mortos.
Na própria noite daquela terça-feira, dia 11, por volta das 20h, a chuva se intensificou ainda mais, porém, foi na madrugada de quarta, dia 12, que o maior volume de chuvas foi registrado.
Segundo informações oficiais da época, "a concentração pluviométrica daquela quarta-feira, dia 12, chegou a mais de 182 milímetros no período de 24 horas".
Em apenas três horas, o volume de água ultrapassou a expectativa mensal para a região, provocando deslizamentos e enchentes.
Os dias seguintes pareciam cenas de um filme de catástrofe: militares por toda parte; montanhas marcadas por deslizamentos; destroços, lama e poeira pelas ruas; bairros completamente devastados; imóveis considerados seguros, ruíram; e o pior de todos os cenários: centenas de mortos. Muitos corpos até hoje não foram encontrados.
O trabalho de busca pelos desaparecidos, através das equipes de Defesa Civil e Bombeiros, foi incansável | Foto: José Maria Vasconcellos de Souza
De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), foram mais de 451 mortos e três pessoas desaparecidas. Oito foram localizados com vida.
Cerca de trinta mil pessoas ainda moram em área de risco na cidade, de acordo com dados divulgados pela Defesa Civil de Friburgo.
Outros municípios, além de Nova Friburgo e Teresópolis, também foram prejudicados pela enxurrada de 2011: Petrópolis, São José do Vale do Rio Preto, Bom Jardim, Sumidouro, Areal, Santa Maria Madalena, Trajano de Moraes, Sapucaia, São Sebastião do Alto, Três Rios, Cordeiro, Carmo, Macuco, Cantagalo e Cachoeiras de Macacu.
Reconstrução pós-tragédia
Algumas obras já foram realizadas no município desde a época da tragédia. Uma delas foi a construção do condomínio Terra Nova, no distrito de Conselheiro Paulino.
No local, foram investidos mais de R$ 290 milhões, com verbas estaduais e federais, para a construção de 2.180 apartamentos.
Obras de contenção de encostas também foram feitas em alguns pontos onde houve deslizamentos na tragédia, como na rua Cristina Ziede, no Centro.
O Portal Multiplix entrou em contato nesta semana com o Governo do Estado do Rio de Janeiro para saber tudo o que foi reconstruído e o que ainda falta ser feito em Nova Friburgo.
Entre os questionamentos realizados, estão os seguintes tópicos: recuperação de encostas do bairro Parque Maria Thereza; deslizamentos no bairro Três Irmãos; desmoronamento de casas às margens do Rio grande, no bairro Riograndina; destruição de imóveis no loteamento Maringá e também a necessidade de oferecer um local seguro à população de baixa renda que vive em área de risco. A reportagem ainda aguarda as informações.
12 anos depois
O atual prefeito de Nova Friburgo, Johnny Maycon (Republicanos), disse ao Portal Multiplix que esta é uma data que nunca será esquecida pela população:
Eternamente, as memórias deste lamentável episódio permanecerão em nossos corações, bem como as lições e aprendizados colhidos.
A população acredita que o número de mortos é maior do que o oficialmente divulgado | Foto: José Maria Vasconcellos de Souza
Ele afirmou ainda que, desde o início da atual gestão, muitos trabalhos que estavam paralisados foram retomados através de parceria com o governo do estado:
Visando a segurança da população, diversas obras de contenção, drenagem, recuperação ambiental e outras que visam a infraestrutura, foram retomadas e hoje encontram-se muito bem encaminhadas.
E disse que em tragédias de grandes proporções, como as que ocorreram em 2011, o máximo que pode ser feito é reduzir os prejuízos, que são inevitáveis e que o município está preparado para socorrer eventuais vítimas, caso ocorra uma nova tragédia:
Praticamente dobramos a quantidade de técnicos da Defesa Civil, potencializando o importante trabalho destes profissionais. De forma significativa, também aumentamos os investimentos e aporte orçamentário e financeiro desta pasta, visando investimentos em projetos de monitoramento e aperfeiçoamento necessários para a otimização das ações de prevenção.
Homenagens
A Cruz Vermelha de Nova Friburgo realizou na noite dessa quarta-feira, dia 11, uma homenagem aos mortos de 2011, no memorial construído na praça do Suspiro, no Centro.
O gesto de solidariedade tem sido feito todos os anos e é sempre marcado por fortes emoções.
Na última quarta-feira, dia 11, mais uma homenagem foi feita às vítimas fatais de 2011 | Foto: Divulgação/Cruz Vermelha
Teresópolis institui o 12 de janeiro como data ‘In memoriam’ às vítimas
Criado em 2021, de autoria do Legislativo, o feriado municipal de 11 de janeiro, em homenagem às vítimas da tragédia climática ocorrida em janeiro de 2011, foi revogado.
No entanto, a Lei Municipal 4.233/2022 instituiu agora o dia 12 de janeiro como data ‘In memoriam’ às vítimas da catástrofe, mas sem o fechamento do comércio e órgãos públicos.
A revogação do feriado atende a solicitação dos representantes das entidades empresariais do município que, respeitando e reconhecendo a importância da data, e incluindo-se entre os atingidos, pediram uma forma de prestar a homenagem sem parar o setor, que é um dos maiores geradores de emprego e renda da cidade.
Considerado o maior desastre natural na história do Brasil, a tragédia ocorrida entre os dias 11 e 12 de janeiro de 2011 deixou 392 mortos em Teresópolis.
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