Arte e muitas histórias retratam a vida de São Cosme e Damião, irmãos mártires e padroeiros da medicina

A vida de São Cosme e Damião pode ser contada além das tradições culturais populares, como a distribuição de doces nesta terça, dia 27 de setembro, data de nascimento dos gêmeos. O costume brasileiro está associado a promessas e pedidos de saúde aos irmãos que são padroeiros dos médicos, farmacêuticos, veterinários e, também, das crianças.

Existem comemorações em diversas datas no mundo, diferentes grafias que identificam as duas figuras na história da humanidade, localização geográfica não muito precisa de onde nasceram e, muitas lendas em torno de acontecimentos da vida dos santos.

Mas, em alguns pontos, há unanimidade: eles curavam enfermos (pessoas e animais), faziam milagres, levavam a fé e a palavra de Jesus Cristo por onde passavam, não cobravam pelos atendimentos e foram mártires.

São Cosme e Damião morreram decapitados | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

A trajetória dos gêmeos é contada pela história, pelas religiões e também pela arte. Há registros históricos e pinturas espalhadas pelo mundo todo. A vida dos santos atrai estudiosos, como a diretora de teatro e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Celina Sodré, que há três anos mora em Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio:

Eles não cuidavam só do corpo, mas da mente e do espírito das pessoas. Faziam isso também, amorosamente, através do uso das palavras.

A diretora estuda São Cosme e Damião há muitos anos e, no final da década de 1990, produziu a peça de teatro 'Cosmodamião: um só coração', no Rio de Janeiro. A obra fala sobre a vida dos gêmeos e de sua mãe, Teodata, considerada santa pela Igreja Ortodoxa.

Celina Sodré visitou alguns museus pelo mundo que possuem pinturas narrando acontecimentos da vida de São Cosme e Damião. Pintores como Fra Angélico, Fernando del Rincón, Giorggio Vassari e André Perez, entre outros, ilustraram algumas passagens históricas sobre eles.

Também existem inúmeros ícones russos com imagens dos dois santos. Todas as pinturas estão em museus da Espanha, Itália, Paris e Bélgica.

Em muitas pinturas, a presença de anjos | Foto: Reprodução/Pintura Master of Los Balbases

Os irmãos que nasceram na Silícia (atual Síria) e morreram por volta de 300 D.C., foram perseguidos pelo imperador romano Diocleciano. Os gêmeos praticavam a medicina e alcançaram, por isso, grande reputação. Não aceitavam nenhum pagamento por seus serviços e foram chamados de anárgiros (palavra em grego antigo, que significava avessos ao dinheiro).

Eles foram jogados na água e salvos por anjos | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

Eles curavam, aliviavam as dores, os sofrimentos, faziam milagres e levavam a fé em Deus por onde passavam. Dessa forma, trouxeram muitos novos adeptos para o cristianismo. Quando a perseguição de Diocleciano começou, eles foram presos e ordenados a se retratarem. Eles se mantiveram diversas vezes sob tortura e, de forma surpreendente, não sofreram nenhum ferimento por água, fogo, ar, nem mesmo na cruz, onde foram colocados para serem flechados.

Na cruz para serem flechados, mas as flechas voltaram | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

O pintor italiano Fra Angélico (1400-1455) foi um dos artistas que mais retrataram a vida deles. Suas pinturas mostram o momento em que eles foram lançados na água para morrerem afogados, mas foram salvos por anjos. Quando foram colocados numa fogueira e não foram queimados. Ao serem flechados, mas nenhuma das flecha os atingirem. Até que foram decapitados.

Foram colocados numa fogueira, mas não foram queimados | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

Um dos quadros de Fra Angélico mostra o sepultamento de São Cosme e Damião. Na imagem é possível ver um camelo, com algo saindo da boca do animal como se ele estivesse falando. Existem relatos sobre esse momento e a cena mostra a proximidade dos santos com os animais - que ele também curava - e um certo mistério.

Celina Sodré pesquisou sobre este momento também:

Eu já li durante minha pesquisa sobre os santos, que eles seriam enterrados separadamente, mas o camelo teria dito que eles deveriam ser sepultados juntos.

Sepultamento de São Cosme e Damião | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

Os restos mortais dos santos estão na Basílica De São Cosme e Damião, em Roma. “Diz a lenda que depois que foram resgatados e exumados, a cabeça e a coluna estavam intactas, como se não tivessem sidos decapitados”, conta Celina Sodré, sobre os santos, que segundo seus estudos, nasceram e morreram no mesmo dia.

Basílica de São Cosme e Damião, em Roma | Foto: Reprodução/Basílica de São Cosme e Damião

A devoção a Cosme e Damião é antiga no Brasil. A veneração aos santos chegou ao Brasil no século XVI, sendo trazida pelos portugueses. Aqui houve forte sincretismo desse culto com as religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Em 1535, foi construída a primeira igreja católica em homenagem aos gêmeos na cidade de Igarassu, Pernambuco.

Inspirados pela divindade, usavam a fé aliada aos conhecimentos científicos para atuarem como médicos. Eles foram os primeiros a realizar transplante de membros, segundo relatos. Existem alguns quadros que mostram esse procedimento dos irmãos transplantando a perna de uma pessoa que tinha acabado de morrer, em um outra pessoa que tinha uma doença no membro amputado.

Já em outra obra é possível ver anjos ao lado de Cosme e Damião, no momento da cirurgia.

Eles faziam cirurgias de transplante de membros | Foto: Reprodução/Pintura Fra Angélico

Através da arte médica, os santos também convertiam pagãos e isso foi um dos motivos que despertou a ira do imperador Diocleciano, implacável perseguidor do povo cristão. Os santos confessaram abertamente perante o imperador romano sua fé em Cristo, que veio para salvar a humanidade e redimir o mundo do pecado.

Eles recusaram oferecer sacrifícios aos deuses pagãos da época.

A atenção que os santos dedicavam ao próximo também fez com que os gêmeos fossem também reconhecidos como “médicos do amor”.

Veja outras notícias da Região Serrana do Rio no Portal Multiplix.