“Estou me sentindo humilhada”, diz mulher trans após polêmica no Carnaval de Nova Friburgo
Francisca Monteiro de Souza é vítima de disputa entre Unidos da Saudade e Alunos do Samba. Entenda o caso e o que diz a Liga das Escolas de Samba
O Carnaval de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio, foi palco de uma polêmica envolvendo uma mulher trans que desfilou na ala das baianas pela escola do Grupo Especial Alunos do Samba, no último domingo, 23.
O caso ganhou repercussão após a agremiação, também do Grupo Especial, Unidos da Saudade entrar com um recurso na Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo (Liesbenf), alegando que um homem teria desfilado na ala das baianas da Alunão, o que seria proibido pelo regulamento da Liga, e que a escola adversária deveria perder pontos.
“Fatos como este só demonstram o quanto precisamos rever conceitos e conversar mais sobre discriminação. Carnaval é alegria e em nossa escola todos serão bem recebidos, pois somos todos iguais. A agremiação já entrou com todas as providências cabíveis a respeito deste fato”, destacou Roberto Valentim, presidente da Alunos do Samba.
Em arte divulgada nas redes sociais, escola Alunos do Samba defende participação de Chica no desfile | Arte: Reprodução/Alunos do Samba
Conhecida como Chica, a passista Francisca Monteiro de Souza tem, desde fevereiro de 2019, todos os documentos, como RG, reconhecidos com o gênero feminino. Em entrevista ao Portal Multiplix, ela diz que acredita que houve transfobia.
“Com certeza houve transfobia. Eu me senti muito arrasada, humilhada. Mas todos os integrantes da Alunos do Samba, diretoria, todos foram maravilhosos comigo. Me acolheram. Fico triste porque preconceito é crime e providências vão ser tomadas”, enalteceu Chica.
O presidente da Unidos da Saudade, Luiz Carlos Teixeira, disse, em entrevista ao Portal Multiplix, que o recurso foi contra a suposta infração à item regulamentar. “Tenho a dizer que se tratou de um recurso contra suposta infração a item regulamentar. Cumpre esclarecer que o regulamento é a norma que rege o desfile das escolas de samba e, por esse motivo, foi assinado por todas as agremiações participantes”, disse.
Luiz Carlos ressaltou ainda que o recurso não teve o objetivo de gerar preconceito. “A peça jurídica por mim assinada não contém conduta atentatória a honra de pessoa ou gênero. Reitero meu irrestrito respeito à diversidade de gênero, às liberdades individuais e aos direitos civis.
O fato é que o recurso da Saudade foi considerado improcedente, de acordo com a Liga das Escolas de Samba de Nova Friburgo. “Tendo em vista as provas de defesa apresentadas pela Alunos do Samba, foi o entendimento que no regulamento não fala da proibição de transsexual desfilar na ala baiana”, explica a nota da Liesbenf.
Segundo o diretor da Unidos da Saudade, Peter Fillot, a escola não quis criar polêmica nem ser preconceituosa. Ainda de acordo com Peter, o regulamento deve ser mudado já para 2021.
“Em nenhum momento a Saudade quis criar polêmica com trans, com homossexualismo (sic), até porque qualquer pessoa que frequenta a quadra da escola sabe do que eu estou falando. Temos muito carinho por todos e sempre teremos. Houve um grande equívoco e o regulamento tem que ser mudado já para o ano que vem, para evitar problemas maiores, pois não somos homofóbicos, porém o regulamento é arcaico”, finalizou.