Foliões se vestem de folhas e flores no 'Carnaval da moita' em localidade de Nova Friburgo

Ao invés de plumas e paetês, folhagens e flores. Assim é o Carnaval em Rio Bonito de Cima, localidade de Nova Friburgo, na Região Serrana do Rio.

O ‘Carnaval da moita’ é famoso na região pelas fantasias inusitadas, feitas com a vegetação da Mata Atlântica e cobertas de mistério.

Dois anos após a pandemia da Covid-19, a tradição volta a aquecer a festa popular dos moradores da pequena vila que pertence ao distrito de Lumiar.

Bananeiras, palmeiras, samambaias e capim compõem as fantasias | Foto: Cristina Pape

Ninguém sabe ao certo como começou essa folia ecológica, que existe há mais de 40 anos. Tem até quem diga essa manifestação popular existe há 60 ou 70 anos.

As informações são incertas, mas o que não falha é o hábito carnavalesco que se repete há décadas.

Todo ano, alguns moradores reacendem o ritual de entrar mato adentro, para escolher as folhas que vão compor a indumentária da folia: bananeiras, palmeiras, samambaias e capim fazem parte desse repertório.

Moradores também usam flores na produção das fantasias | Foto: Regina Lo Bianco

Em um clima de segredo e mistério, os ‘palhaços de Rio Bonito’ são os próprios criadores de suas fantasias, feitas não só com folhas, mas também com flores e até sementes.

Os materiais são naturais e parece uma coisa simples, mas as roupas são complexas, tem uma estrutura corporal que leva dias para ser fabricada. E tudo é feito escondido.

A artista plástica Cristina Maria Pape, professora aposentada da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que começou a frequentar Rio Bonito há quase 20 anos, conta que para produzir as fantasias, os moradores entram na mata e 'desaparecem', às vezes, durante dias.

O anonimato é uma regra. Ninguém sabe que fantasia está sendo preparada, quem está por trás das folhagens e das máscaras. Todo processo é bem minucioso e calculado.

E se alguém desconfia quem é o folião de moita, eles dão um jeito de sair e trocar as fantasias entre si.

Anonimato é ingrediente fundamental | Foto: Regina Lo Bianco

A diversão é manter a identidade oculta e um adereço complementa a brincadeira: com um canudinho, eles vão até as pessoas e bebem as bebidas, de preferência, as alcoólicas. Assim, todo mundo participa do 'Carnaval da moita'.

A moradora Bete Almeida, que se consideram admiradora e incentivadora do Carnaval de Rio Bonito, contou que já saiu fantasiada uma vez, mas não aguentou. “A fantasia é pesada e muito quente. Mas tem quem saia de moita há 40 anos”.

Na véspera da festa, ninguém sabe como vai ser: algumas roupas são inauguradas, outras, são de outros carnavais. Mas todos concordam com uma coisa: a cada ano é uma emoção diferente.

O 'Carnaval da moita' atrai turistas, artistas e acadêmicos, cada um com seu olhar observador e que estudam aquele movimento de um comportamento e estética, únicos.

Os palhaços de Rio Bonito costumam ser vistos em maior número no domingo e na segunda de Carnaval e, a cada ano, a participação das crianças aumenta. São os ‘moitinhas’.

Crianças no Carnaval de Rio Bonito: são os 'moitinhas' | Foto: Bete Almeida

A fotógrafa friburguense Regina Lobianco é uma das pessoas que se interessam pelo ‘Carnaval da moita' e, durante muitos anos, frequenta o lugar para registrar a criatividade daqueles moradores.

A artista plástica Cristina Maria Pape escreveu um artigo acadêmico há uns anos, depois de uma pesquisa sobre os ‘palhaços de Rio Bonito’. É um dos poucos relatos sobre o assunto:

Esse 'Carnaval da moita' lembra tradições de alguns cantões suíços. Mas os moradores mais velhos não possuem nenhuma informação mais consistente sobre sua origem.

Ninguém sabe ao certo a origem das fantasias de moita | Foto: Cristina Pape

Mas, Cristina pesquisou as festas carnavalescas suíças em que os moradores de alguns cantões se fantasiavam de ‘peluche’ (peludo) e de ‘empaille’ (empalhado), feitas com materiais comuns dos Alpes (peles de animais, palhas e sacos de juta).

A tradição de Rio Bonito nos leva a acreditar que tem origem na Suíça, já que muitos imigrantes suíços colonizaram a região.

Pedro Urano é também uma das pessoas que estudam o Carnaval de Rio Bonito, e levou o assunto para o seu doutorado na Uerj. Ele pesquisa a relação da imagem com a natureza:

O 'Carnaval da moita' é uma tradição saudável. É simples, aleatório e incrível. Eu conheci as fantasias de folhas em 2016. Até hoje vou até Rio Bonito nessa época para acompanhar a festa em que as pessoas fazem parte da paisagem, desse cenário de floresta.

O acesso mais utilizado para Rio Bonito é via Galdinópolis, na RJ-142, no trecho Mury-Lumiar. Fica aproximadamente a 38 km do Centro de Nova Friburgo.

Para quem busca tranquilidade, segurança e contato com a natureza, e, principalmente um programa inédito, Rio Bonito é uma opção imperdível para esse ano.

Receba as notícias do Portal Multiplix direto no WhatsApp. Clique aqui para participar.